10.12.13

«Dito & Feito»

Por José António Lima
Com a 10.ª avaliação aproximam-se do fim os três anos do exigente e rigoroso programa de assistência financeira da troika. Daqui a seis meses Portugal poderá deixar a sua condição de «protectorado», como não se cansa de proclamar Paulo Portas com ardente nacionalismo.
E toda a esquerda exultará com a saída da troika, desde um PCP tão nacionalista quanto Portas ao Bloco, passando pela ala soarista-alegrista do PS. Mas há quem, pelo contrário, olhe com apreensão para Julho de 2014 e tema o que vai acontecer ao país sem troika.
Porque a propensão de Portugal, sem a fiscalização externa e a imposição de programas a cumprir, é facilitar, deixar-se atrasar na Europa, perder competitividade na economia, gastar mais do que produz, fazer crescer um Estado clientelar e insustentável, acumular dívidas atrás de dívidas.
Na verdade, é esse o retrato fiel e sem disfarces destes 30 anos que decorreram entre o recurso ao FMI em 1983 e o actual pedido de ajuda à troika - em ambos os casos, com o Estado português à beira da bancarrota.
Mesmo nos períodos de maior progresso e desenvolvimento económico, o país derrapou sempre na disciplina financeira e na produtividade. Os dez anos de crescimento e modernização de Cavaco Silva como primeiro-ministro tiveram, como reverso, a expansão do insaciável 'monstro' da despesa do Estado, que disparou com o novo sistema retributivo da função pública ou o 14.º mês dos pensionistas. A seguir, com António Guterres, vieram os anos do despesismo público sem limites, na festa da Expo 98, nos estádios do Euro e em tudo o mais. Com os Governos de Durão Barroso e José Sócrates, os milhões dos fundos europeus a continuarem a afluir aos cofres nacionais e a entrada no clube dos ricos do euro, a receita despesista só se agravou.
Calcule-se, pois, sem a exigência da troika, o que virá aí a partir de Julho de 2014.
É fácil adivinhar o que irá custar ao país a pulsão eleitoralista de Portas e da coligação PSD/CDS com legislativas à vista em 2015. E treme-se só de pensar o que fará um Governo do PS, seja ele de Seguro ou de Costa, sem o travão e a disciplina da troika. Será uma questão de tempo até ao próximo resgate.
«SOL» de 6 Dez 13

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