O admirável mundo cada vez mais novo
Por Ferreira Fernandes
O corretor automático já deve equiparar-se ao colesterol como causa maior de ataques cardíacos. Ao computador ou telemóvel, um imprevidente clica no enviar antes de fazer a releitura do seu texto e arrisca-se ao desemprego ou, pior, à chacota do ente querido: uma tecnologia atrevida decidira emendar uma palavra de forma irremediável... Uma amiga minha suspeita que o seu corretor automático é tarado, pois já lhe mudou "Volvo" por "vulva" e "óculos" por "óvulos".
A traquinice dos corretores já se tornou tão universalmente aceite que a Volkswagen brasileira aproveitou para fazer publicidade. O vídeo mostra um teclado compondo uma frase bajuladora - "chefe, você é um craque" -, que se transforma num insulto: "chefe, você é um crápula". Pegando na demonstração, a Volkswagen conclui: "Não queira similares, só peças originais."
Homem de jornais, passei a vida a frequentar revisores que não só me emendavam as palavras para melhor, como tinham sempre a gentileza de prevenir. Mas o anão que se esconde nos smartphones emenda sem dizer água vai.
E a coisa só pode piorar. Ontem os jornais ingleses falavam da pesquisa de um cientista de computadores finlandês, Hannu Toivonen, que quer o anão, agora, voluntariamente piadético. Toivonen anda a tentar definir o humor de forma algorítmica para o meter nos computadores. Você escreve uma mensagem bem-disposta e o computador muda-a para uma piada científica... Vai ser perigosamente triste.
«DN» de 23 Jan 14 Etiquetas: autor convidado, F.F
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