5.2.14

A esperança exige luta

Por Baptista-Bastos
PAULO PORTAS foi num instantinho a Espanha e falou um bocadinho em portunhol. Vi, na televisão, pressurosa a transmitir o magno acontecimento, o chefe do CDS, muito ancho, sorrindo a glória do instante. A cena ocorreu na Convenção do Partido Popular espanhol, e os dirigentes sorriam, não se descortinou se de gozo se de cortesia. Porém, o que Portas disse não foi de molde a suscitar a alegria dos distintos. "Venho trazer-lhes boas notícias de Portugal." O mal-estar foi nítido. Rajoy olhou, apreensivo, para a senhora a seu lado, e o semblante turvou-se-lhe, sobretudo quando o orador asseverou que Portugal estava à beira de ser feliz e muitíssimo livre, com a ida da troika para os limbos.
Está por esclarecer o que deu origem ao facto de Portas substituir Passos no palco da Convenção, porque as regras consuetudinárias exigem a reciprocidade nestes assuntos. Depois, o PSD e o Partido Popular são "irmãos" na Europa e nos desígnios. O CDS, neste caso, é uma excrescência. Aliás, os representantes do PSD estavam remetidos para as filas do fundo. Embalado no contentamento juvenil de dizer coisas que não são exactas, e de ter com a verdade uma relação assaz conflituosa, Paulo Portas esqueceu-se, pouco diplomaticamente, de a Espanha estar a atravessar uma crise gravíssima, sem fim à vista.
Quanto a nós. A dívida pública portuguesa aumentou assustadoramente; o desemprego é medonho; os cortes nos rendimentos das pessoas, com particular incidência nos reformados, nos pensionistas e nos funcionários, são infames; 140 mil jovens foram, até agora, coagidos a emigrar; a investigação científica está a esboroar-se, com um ministro esburacado que traiu os testamentos legados; cada vez há menos estudantes nos cursos superiores; o Serviço Nacional de Saúde, a jóia da coroa, está a ser atingido de morte; a Justiça é uma amolgadela social e moral; a Segurança Social mingua a olhos vistos. Ora bem: pode alguém mentir assim tanto e apregoar virtudes que lhe não cabem?
Sei muito bem que toda esta aldrabice faz parte de uma estratégia ideológica das direcções políticas ocidentais, articulada na esterilidade de ideias, no esvaziamento do debate, na manipulação dos valores que conduzem ao desprezo pela política e à ascensão da insignificância e da futilidade. A política passou a ser obliterada e substituída por "gestores" e "economistas" que possuem do facto social uma noção de insensatez. Estou a lembrar-me do banqueiro Ulrich, que, desaforado, teve o descoco de afirmar, em resposta a uma pergunta sobre se a população aguentaria tantos sofrimentos: "Ai, aguenta, aguenta!"
O desgosto que nos assola é demasiado. A nossa tristeza torna-se endémica. Mas sou autor de uma frase muito citada, que continuo a sublinhar: a esperança tem sempre razão. No entanto é preciso lutar por ela. Pela esperança. 
«DN» de 5 Fev 14

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1 Comments:

Blogger Leo said...

Boa noite,

A dívida pública aumentou graças ao esforço que foi necessário fazer para honrar os compromissos externos negociados e assinados pelo próprio PS e para equilibrar o desgoverno e o açambarcamento que se assistiu durante os governos do "Eng.º" Sócrates.
O desemprego é medonho sim mas já se vislumbra criação sustentada de novos empregos. Parabéns aos nossos empresários!
Infame seria continuar a pagar pensionistas reformados com cinquenta ou cinquenta e poucos anos a receber as suas pensões a 100% ou a 80% sabendo que os jovens de hoje apenas se irão reformar com o pé para a cova e com reformas muitíssimo mais reduzidas e para as quais vão descontar muito mais.
Os jovens vão lá para fora ganhar experiência, disciplina e currículo, regressarão um dia pela porta grande e com muito para dar ao nosso país.

A insignificância e a futilidade atingiram o seu auge no tempo de Guterres e de Sócrates que apenas governaram para vencer as eleições seguintes. Esses sim hipotecaram o futuro do país. Quão mendigos ficamos!

Infelizmente a política desastrosa desses dois grandes governantes foi travada pela mais dura realidade: - Acabou-se a mama! já não há guita! Fechou a torneira do crédito e o financiamento para todo o rol de futilidades a lembrar o negro de lunetas de que Eça falava.
Felizmente, ainda que paulatinamente, os nossos "políticos" começam a ser substituídos por gestores à séria e por economistas. Pelo menos esses sabem como administrar de forma sustentável os nossos parcos recursos. A isso chamo de respeito!

Ainda há quem ache que arrumar a casa é desnecessário ou que seriam desnecessárias todas estas medidas mesmo quando é do domínio público que foi o ps quem negociou a maioria das medidas mais draconianas. O mesmo PS que vem agora defender que o Governo atual devia bater o pé à Troika e renegociar a dívida. Pergunta: Porque não o fizeram quando tiveram oportunidade?
Fará sentido este discurso a meses do final do cumprimento com sucesso do memorando?
Medidas para corte na despesa encontram oposição do PS. Alternativas do PS a essas medidas... Nada, nada que sirva os nossos interesses e necessidades, apenas retorica.


O tempo dos chamados "cagoesinhos" habituados que estavam a encontrar em Portugal a admiração dos demais sem nada fazer para a merecer. Canudo em riste, direitos adquiridos, soberba a crédito e humanismo demagogo... No More!

O PS juntou-se à esquerda em demagogia politiqueira, egoísmo partidário e falta de sentido de Estado.

Léo.

10 de fevereiro de 2014 às 06:06  

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