15.2.14

Contra os cortes na ciência portuguesa

Por Carlos Fiolhais
Numa longa entrevista que dei ao "Jornal de Negócios", publicada hoje no número de fim de semana, interrogado sobre os recentes cortes na ciência, afirmei o seguinte:
Se queremos manter o nosso nível de vida ou até melhorá-lo, precisamos de mais e melhor ciência. E a ciência dá resultados. É por isso que eu vejo como importantes as preocupações em Portugal sobre o futuro da ciência. Nos últimos vinte anos, a ciência progrediu muito, formámos bastantes mais pessoas, temos uma geração científica que está ao nível dos melhores. Este esforço tem de continuar.
Se há uma mudança de paradigma, como dizem, é de um paradigma de crescimento para um paradigma de decréscimo. Há uma razia enorme, sem aviso. E não há nova política, porque, se houvesse, tinha sido anunciada e discutida na Assembleia da República. Há um engano perfeito. Os jovens tinham expectativas sobre a continuação dos seus estudos. O que me preocupa não são os cortes, é a falta de inteligência nos cortes.
Os governos têm de ouvir os cientistas e o nosso governo está surdo, mudo e cego. Estou a  chegar de França e li uma notícia sobre um comunicado do Conselho Superior de Ciência e Tecnologia que, aparentemente, foi censurado. É de bradar aos céus, como é que isto é possível num país democrático? A democracia não está em risco, mas estamos a ver sintomas de atentados a normas democráticas e não devemos tolerar isso. Parece que estamos todos atordoados, adormecidos, pouco críticos. Isto de estarmos encolhidos tem de acabar. Não devemos permitir que um órgão independente seja impedido de ser independente.
Já a FCT (Fundação para a Ciência e a Tecnologia) é uma repartição do Estado que terá recebido ordens para fazer uns cortes e fê-los sem qualquer espírito crítico, sem saber sequer o que é a ciência. A dimensão cultural da ciência é desconhecida da FCT. Acabaram com duas áreas fundamentais: história da ciência e promoção da ciência. É como se tivessem cortado a ligação da ciência à sociedade e à cultura. E a ciência, sozinha, estiola.

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