«Dito & Feito»
Por José António Lima
Passos Coelho congratulou-se publicamente, esta semana, por o défice
português em 2013 ter sido “inferior ao da Espanha e da Irlanda”.
E
acrescentou, com mal contida satisfação: “E o défice estrutural,
excluídos os movimentos cíclicos da economia, terá sido pouco superior a
3%”. Sabendo-se que o défice real de 2013 terá ficado em 5,2% (cálculo
da ministra Maria Luís Albuquerque), Passos Coelho terá descontado a
esse valor cerca de 2% (de subsídios de desemprego pagos a mais por se
viver em recessão, além de contribuições sociais e receitas fiscais a
menos pela mesma razão) para chegar ao seu 'défice estrutural' à roda de
3%.
O que Passos Coelho se esqueceu de dizer, em contrapartida, é
que esse défice só foi atingido graças a sucessivos e cumulativos
cortes em salários e pensões do funcionalismo público, ao congelamento
de progressões nas carreiras em vigor desde 2010, ao aumento de impostos
como a sobretaxa de 3,5% sobre o IRS ou à tão falada CES dos
pensionistas, entre outras medidas.
Medidas que, no seu conjunto,
representam cerca de 5 mil milhões de euros, o equivalente a 3% do PIB. E
que, segundo o próprio primeiro-ministro, não são medidas definitivas e
estruturais de consolidação orçamental mas apenas provisórias. “Muitos
dos cortes realizados pelo Governo são transitórios. Na medida em que
dependerão da forma como a nossa economia vier a recuperar”, garantiu há
duas semanas Passos Coelho. Ou seja, excluída a recessão e os
movimentos cíclicos da economia, com a devolução destes cortes aos
bolsos dos portugueses, o verdadeiro 'défice estrutural' saltará
automaticamente para um patamar acima dos 6%...
É este o resultado
de o Governo não ter feito uma redução estrutural e real da despesa do
Estado, de tudo serem medidas transitórias, provisórias e temporárias -
ou o que se lhes quiser chamar para passarem no estreito crivo do TC e
sossegarem o arisco e refractário eleitorado do centro.
E, no que
toca à receita do Estado, Paulo Portas já veio prometer “dar início a
uma moderação do IRS em 2015”, ano de eleições legislativas. Por este
caminho, o tal 'défice estrutural' volta aos 6% ou 7% já daqui a dois
anos. Transitoriamente, claro.
«SOL» de 14 Fev 14 Etiquetas: autor convidado, JAL
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