25.2.14

Tão importante como o roubo do BPN (*)

Por Ferreira Fernandes 
Contou ontem o JN, um homem foi detido, julgado e metido numa prisão para cumprir pena. Não me interessa, para já, o homem. Olhem para o outro lado: à conta de quê o Estado detém uma pessoa, julga-a e põe-na numa cela? Conhecemos a resposta: para não andarmos na rua sujeitos à cachaporra de um vizinho mais forte, abdicamos do uso privado da violência e oferecemos ao Estado o monopólio dessa violência. Mas chega de falar do que já sabemos. 
Passemos ao caso do JN. Em setembro passado, um homem de 40 anos foi detido, isto é, a polícia agarrou-o pelos colarinhos, sob o pretexto de que ele tinha roubado. Foi levado ao tribunal, onde um juiz se arrogou o direito de o considerar culpado. E foi mandado para a cadeia da Carregueira onde guardas o meteram numa cela. Tudo conforme o acordo social que todos aceitamos. Dentro da lei, o Estado tem o direito de exercer aquelas violências físicas. Violências físicas? Sim, sim, o Estado tirou liberdades ao homem (a de andar de cá para lá), e tinha direito de o fazer. Mas, diz o jornal, metido na cela, o homem foi violado durante três dias por três outros presos. Estes, ao que parece, já foram castigados. Não chega. Que indignação nacional se levantou por um todo poderoso Estado, desmerecedor da força que lhe demos, ter permitido a humilhação de um cidadão indefeso e trancado? Que falta de compaixão e honra impede que este caso seja discutido no lugar certo, que é o Parlamento? 
«DN» de 25 Fev 14
(*) NOTA (CMR): a imagem, que julgo corresponder ao texto, é do «CM online» de hoje

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4 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Acerca deste assunto, escreve Helena Matos, no «DE» de hoje:

«Um recluso da cadeia da Carregueira foi violado por três colegas de cela, três dias consecutivos, numa espécie de "praxe de boas-vindas", tendo sido obrigado a tratamento médico. O Ministério Público está a investigar." - escreve o Jornal de Notícias de ontem. Não sei o que está a investigar o Ministério Público mas para lá das responsabilidades de cada um dos agressores seria importante que se percebesse não só como foi isto possível mas como foi possível que acontecesse durante três dias. Durante três dias nenhum guarda passou por ali?

Durante três dias aqueles homens estiveram incomunicáveis? Durante três dias ninguém viu nem ouviu nada? Ser preso não pode significar passar a viver numa realidade alternativa onde impera a lei do mais forte. Quando alguém é detido a responsabilidade pela sua vida e pela sua segurança passa para o Estado. E não é de modo algum aceitável que este Estado que todos os dias inventa mais um detalhe para se meter nas nossas vidas se demita da mais elementar das suas funções: garantir a segurança dos seus cidadãos, nomeadamente daqueles a que privou de vários direitos. Por fim mas não por último seria também importante que o Ministério Público investigasse a existência nas prisões daquilo a que os jornalistas frequentemente se referem como "praxe de boas-vindas" e que só é referida como se se tratasse de uma fatalidade porque quem assim pensa, fala e escreve não pensa que um dia pode ser preso ou pior que pode ver os seus filhos numa cadeia».

25 de fevereiro de 2014 às 13:06  
Blogger José Batista said...

Repugnante. Chocante. Inadmissível.
Os violadores foram não só os que praticaram os actos como também os servidores do estado e o próprio estado, que o permitiram (grafei estado com minúscula de propósito).
Cabe puni-los como justamente merecem e exigir-lhes o ressarcimento possível.
Também cabe a cada cidadão emitir opinião e exigir justiça.
Foi por isso que escrevi estas linhas.

25 de fevereiro de 2014 às 21:40  
Blogger Leo said...

Bem, há decadas que se ouve histórias como esta e se a memória não me falha nunca foram tratadas individualmente no parlamento. O gang até violou o homem por engano e tudo. No parlamento discutem-se políticas e não casos isolados, por muito lamentáveis que sejam e na realidade são. Independentemente da vítima ser contabilista ou violador de criancinhas.

25 de fevereiro de 2014 às 21:45  
Blogger brites said...


vítima e violador no mesmo patamar é sintomático, sr. Leo...

as cadeias são locais onde o Estado não devia transigir com qualquer infração à integridade física e psicológica dos presos pelo contrário,devia punir com exemplaridade. sobretudo prevenir.

se um filho meu fosse molestado, alguém estoirava.não sendo, felizmente, estoiram-me os miolos de indignação.

26 de fevereiro de 2014 às 09:43  

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