«Dito & Feito»
Por J. A. Lima
António José Seguro já lidera o PS há mais de dois anos e meio, mas
continua a transmitir a imagem de um líder politicamente frágil e a
prazo. Seguro vence mas não convence, como nas eleições autárquicas ou
nos congressos socialistas. Vai à frente mas não há meio de se destacar
com clareza, como nas sondagens. Fala muito e sobre quase tudo, mas não
consegue apresentar uma alternativa de Governo fundamentada e credível.
Como se não bastasse, é um líder acossado dentro do seu próprio partido.
Seguro
teimou e insistiu, ao longo de mais de um ano, na estratégia errada de
pedir eleições antecipadas, ficando sem discurso político quando essa
hipótese saiu de cena após a crise de Governo no Verão de 2013. Desde
então, Seguro especializou-se e enquistou-se na 'política do contra',
radicalizando gratuitamente à esquerda o discurso do PS.
O novo
mapa judiciário fecha umas dezenas de tribunais com movimento mínimo? O
PS promete reabri-los quando um dia voltar ao Governo... e até propõe a
criação de um insólito 'tribunal gold' para investidores ricos.
Cortaram-se quatro feriados? O PS compromete-se a repô-los. A maioria
quer acordo para uma reforma do IRS? O PS está contra. Os juros da
dívida portuguesa continuam a baixar? O PS critica o facto de ainda
serem tão altos. O Governo admite um programa cautelar? O PS exige uma
'saída à irlandesa'.
Seguro critica tudo, recusa tudo, está
contra tudo. Até contra um simples entendimento de regime a médio prazo
em questões tão elementares como a dívida ou a despesa do Estado - como
se o PS não pensasse chegar ao Governo nos próximos anos.
Mas este
radicalismo na oratória não garante a Seguro sossego ou tréguas no
interior do PS. Carlos César e António Costa não lhe poupam críticas
públicas à moleza da liderança e elevam-lhe a fasquia nas próximas
europeias para uma “vitória clara e significativa”, ao nível dos 44% de
Ferro Rodrigues em 2004. Santos Silva já assume, sem rodeios, que “estas
europeias serão determinantes para a liderança do PS”.
E Seguro
conseguiu até colocar o seu melhor candidato às europeias, Francisco
Assis, a ameaçar “saltar fora” do barco face à indefinição do líder. Era
difícil fazer pior.
«SOL» de 21 Fev 14Etiquetas: autor convidado, JAL
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