1.3.14

«Dito & Feito»

Por J. A. Lima
António José Seguro já lidera o PS há mais de dois anos e meio, mas continua a transmitir a imagem de um líder politicamente frágil e a prazo. Seguro vence mas não convence, como nas eleições autárquicas ou nos congressos socialistas. Vai à frente mas não há meio de se destacar com clareza, como nas sondagens. Fala muito e sobre quase tudo, mas não consegue apresentar uma alternativa de Governo fundamentada e credível. Como se não bastasse, é um líder acossado dentro do seu próprio partido.
Seguro teimou e insistiu, ao longo de mais de um ano, na estratégia errada de pedir eleições antecipadas, ficando sem discurso político quando essa hipótese saiu de cena após a crise de Governo no Verão de 2013. Desde então, Seguro especializou-se e enquistou-se na 'política do contra', radicalizando gratuitamente à esquerda o discurso do PS.
O novo mapa judiciário fecha umas dezenas de tribunais com movimento mínimo? O PS promete reabri-los quando um dia voltar ao Governo... e até propõe a criação de um insólito 'tribunal gold' para investidores ricos. Cortaram-se quatro feriados? O PS compromete-se a repô-los. A maioria quer acordo para uma reforma do IRS? O PS está contra. Os juros da dívida portuguesa continuam a baixar? O PS critica o facto de ainda serem tão altos. O Governo admite um programa cautelar? O PS exige uma 'saída à irlandesa'.
Seguro critica tudo, recusa tudo, está contra tudo. Até contra um simples entendimento de regime a médio prazo em questões tão elementares como a dívida ou a despesa do Estado - como se o PS não pensasse chegar ao Governo nos próximos anos.
Mas este radicalismo na oratória não garante a Seguro sossego ou tréguas no interior do PS. Carlos César e António Costa não lhe poupam críticas públicas à moleza da liderança e elevam-lhe a fasquia nas próximas europeias para uma “vitória clara e significativa”, ao nível dos 44% de Ferro Rodrigues em 2004. Santos Silva já assume, sem rodeios, que “estas europeias serão determinantes para a liderança do PS”.
E Seguro conseguiu até colocar o seu melhor candidato às europeias, Francisco Assis, a ameaçar “saltar fora” do barco face à indefinição do líder. Era difícil fazer pior.
«SOL» de 21 Fev 14

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