14.4.14

Angolanos compraram o DN e tenho medo (2)

Por Ferreira Fernandes
Dizia eu, os angolanos compraram o DN e tenho medo. Medo? Sim, medo de que essa compra possa não ir tão longe quanto promete. Os patrões do espanhol El Mundo são italianos e os do inglês The Independent, russos. Jornais com donos estrangeiros, como agora o DN, é costume crescente. Novo é o DN ter sido comprado por gente da nossa língua e com muito destino comum. Da compra do DN por finlandeses eu esperaria números, e só. Com angolanos quero mais. Portugal e Angola partilham uma condição, necessitam-se, e uma tolice, ignoram-se. Conhecer a primeira e resolver a segunda é de um jornal. A paz angolana, real e já com 12 anos, não se deve a um milagre mas, entre outras razões, por o chefe do Estado-Maior ser o general Nunda, vindo da UNITA. Conhecem muitos rebeldes que chegaram ao topo do exército que combateram? Esse facto poderia ser-nos irrelevante, mas não é: permitiu a milhares de professoras e marceneiros portugueses arranjar emprego. Contar a condução solitária de um camionista minhoto por 600 quilómetros de estrada angolana varreria, por cá, muita teia de aranha. O humorista angolano Gody escolhe cantores na TV Zimbo com a verve e na mesma língua de Ary Barroso (o da Aquarela do Brasil) no programa radiofónico A Hora do Calouro, há 70 anos, no Rio. Gody não tem ideia de quem foi Ary. E porque havia de ter? Olhem, porque Portugal tem interesse em unir aquilo que teceu. Entendem agora o meu medo, que não é medo, é esperança?
«DN» Abr 14

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1 Comments:

Blogger Manuel Tiago said...

Também tu, Ferreira Fernandes???

14 de abril de 2014 às 11:55  

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