Angolanos compraram o DN e tenho medo (2)
Por Ferreira Fernandes
Dizia
eu, os angolanos compraram o DN e tenho medo. Medo? Sim, medo de que
essa compra possa não ir tão longe quanto promete. Os patrões do
espanhol El Mundo são italianos e os do inglês The Independent,
russos. Jornais com donos estrangeiros, como agora o DN, é costume
crescente. Novo é o DN ter sido comprado por gente da nossa língua e com
muito destino comum. Da compra do DN por finlandeses eu esperaria
números, e só. Com angolanos quero mais. Portugal e Angola partilham uma
condição, necessitam-se, e uma tolice, ignoram-se. Conhecer a primeira e
resolver a segunda é de um jornal. A paz angolana, real e já com 12
anos, não se deve a um milagre mas, entre outras razões, por o chefe do
Estado-Maior ser o general Nunda, vindo da UNITA. Conhecem muitos
rebeldes que chegaram ao topo do exército que combateram? Esse facto
poderia ser-nos irrelevante, mas não é: permitiu a milhares de
professoras e marceneiros portugueses arranjar emprego. Contar a
condução solitária de um camionista minhoto por 600 quilómetros de
estrada angolana varreria, por cá, muita teia de aranha. O humorista
angolano Gody escolhe cantores na TV Zimbo com a verve e na mesma língua
de Ary Barroso (o da Aquarela do Brasil) no programa radiofónico A Hora do Calouro,
há 70 anos, no Rio. Gody não tem ideia de quem foi Ary. E porque havia
de ter? Olhem, porque Portugal tem interesse em unir aquilo que teceu.
Entendem agora o meu medo, que não é medo, é esperança?
«DN» Abr 14 Etiquetas: F.F
1 Comments:
Também tu, Ferreira Fernandes???
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