11.6.14

A quem estamos entregues

Por Baptista-Bastos
Tudo parece indicar que António Costa caminha para dirigir o PS. E Seguro?, perguntei, arfante de curiosidade, a um dirigente daquele partido, que apoiara, com entusiasmo, o actual secretário-geral. Não tem carisma, respondeu. Só agora é que não tem? Acentuou-se essa falta. Este diálogo, pouco razoável, tome-se como reflexo daquela agremiação. As coisas, ali, sempre funcionaram como num jogo de intrigas, porque o poder atrai sempre as moscas. Lembremo-nos do sótão de Guterres, só para não esquecer a guerrilha contra Mário Soares. Quanto a Seguro, o equilíbrio manso durante o consulado de Sócrates define um carácter e desenha a exiguidade do homem. Em política, a lealdade e a gratidão não possuem lugar cativo. Porém, estas deformidades não são apanágio único do PS: veja-se o que ocorre no PSD. Desde os conflitos no tempo de Sá Carneiro, até às convulsões de Passos, com expulsões e marginalizações despudoradas, a rectidão de processos não tem sido, no sítio, muito recomendável.
Mas estas turbulências podem, acaso, ajudar a definições mais claras. Passos, já toda a gente sabe quem é e ao que veio. Meteu-se numa embrulhada, para a qual não estava minimamente preparado, nem cultural nem ideologicamente, presumindo, com leviandade de menino, que bastava mexer nas estruturas sociais e conflituar com as instituições (caso dos sindicados e do Tribunal Constitucional, por exemplo) para alisar os obstáculos. É o que se viu. Colocou a sociedade portuguesa num paiol de desespero, e enriqueceu ainda mais os ricos, desprezando os pobres e o mundo do trabalho.
Seguro, quanto a ele, suprimiu as palavras "trabalhadores" e "operários" do léxico comum a um partido daquela natureza, enfiou no bolso o punho esquerdo e fertilizou com amena satisfação o apego ao "mundo empresarial", sem rebuço e num compromisso abjecto. Teve como parceiro o Eng.º Proença, sempre pronto a pactos unilaterais. A redução do PS a uma espécie de estado cataléptico provocou o entusiasmo claro e jubiloso dos dirigentes do PSD, que nunca viram em Seguro um estorvo de maior, nem na baixa retórica ou na gramática débil e repetitiva. É um sujeito menor, sem visão do mundo e sem capacidade de estudo para o compreender.
António Costa deixou-se fotografar com o punho cerrado, é certo, mas pouco ou nada se sabe do seu projecto político. E, se calhar, ainda é cedo para dele tomarmos conhecimento. Todavia, a ter em conta as intenções gerais, é ele o favorito dos portugueses para liderar o PS. E é ele o que se entende como capaz de escorraçar Passos Coelho da incompetência e do crime de empobrecimento com que tem causticado a pátria dos mais pobres.
No meio de isto tudo, emerge, como caixeiro-viajante de uma loja de caixões, o fúnebre Dr. Cavaco. Quem nos acode?
«DN» de 11 Jun 14

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1 Comments:

Blogger José Batista said...

Nunca consegui ver em Seguro um (futuro) primeiro ministro credível.
De António Costa não me entusiasmam as ruas de Lisboa cheias de lixo e esburacadas que vou vendo neste blogue. Também me lembro de umas cenas hilariantes com rotundas concêntricas e trânsito caótico. Porém, se tantos lisboetas o reelegeram é porque viram futuro no (e com) o homem, pensei eu.
A maneira como saltou do silêncio e afirmou que a vitória do PS nas europeias foi um fiasco agradou-me.
Só que, um dia destes, veio elogiar a visão estratégica de não sei quem e o impulso reformista de não sei quem mais. Visão quê? Impulso reformista de quem?
E fiquei gelado. Bem sei que António Costa tem que tentar dominar a capoeira, reduzindo os inimigos (aos ainda encostados a Seguro). Assim, mesmo, da minha parte, muito terá que andar para ganhar um voto.
Para já, tem-no perdido.

11 de junho de 2014 às 23:15  

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