5.6.14

A tendinite que nos aperta o coração

Por Ferreira Fernandes 
A pátria está dependente de uma lesão muscular da coxa esquerda, agravada por tendinose rotuliana. Não é a primeira vez que o nosso velho país tem razões de queixa da coxa. Antes de Cristiano Ronaldo, já o nosso primeiro Number One, Afonso Henriques, ao passar por uma porta de Badajoz, rasgou a coxa. Resultado, apanhado pelos adversários teve de ceder, em troca, vários castelos. É ironia do destino que a coxa, músculo que só se move para a frente, nos atrase historicamente. Por causa dela perdemos Badajoz e Tui, que são "pinas", diria um mestre da bola, comparados com o que podemos perder com a Alemanha na próxima semana. Outra ironia é um povo de grandes desígnios universais estar tão dependente de partes menores do corpo. As pancas de D. Sebastião, que nos levaram a Alcácer Quibir e a baixar de divisão, nasceram das suas maleitas venéreas. Podia fazer-se uma História de Portugal ilustrada com o desenho de um corpo humano. Para o melhor e para o pior. Por exemplo, o cérebro sobredotado de D. João II tramou-nos. Era o Colombo a explicar-lhe como ia chegar à Índia e o nosso rei, que conhecia as medidas certas do globo, a rir-se das tolices do genovês. Colombo foi vender a ideia errada à empresa ao lado e falhámos a América como Cristiano pode falhar o Brasil. Já uma ou outra entorse pode corresponder a vitória: Martim Moniz, o Entalado, partiu todas as costelas, mas graças a elas ganhámos o campeonato do Castelo de Lisboa. 
«DN» de 5 Jun 14

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