O Governo insiste em ilustrar o povo
Por Ferreira Fernandes
Dialética é um dizer que não, outro, que sim, e no fim ganhar aquele que for mais importante na firma. É um conceito antigo, eu ia dizer que remonta a Sócrates não fosse o receio de que o Correio da Manhã aproveite e faça manchete: "Sócrates roubou a dialética ao grego Zenão de Eleia!" Trago a dialética aqui para louvar a iniciativa do Governo em tentar elevar o debate, fazê-lo filosófico até, em tempos em que as atenções populares estão tão junto à relva. Poucos perceberam o que fez Poiares Maduro, tipo inteligente e culto, ao dizer, anteontem: "Ai houve funcionários que já receberam as férias?! Tramaram-se, agora a devolução dos cortes não é para eles." Julgou-se que Poiares estava a criar uma nova categoria de funcionários, de segunda. Mas não, ele estava a participar num diálogo dialético. A prova é que, logo depois, ontem, um ministro mais alto do que Maduro trouxe a contradição: que não. Que, afinal, todos os funcionários são iguais e não se pensa pôr avisos nos urinóis da administração pública: "Proibido a funcionários apressadinhos que fazem férias primaveris." Não, repito: era só dialética: um murro nos dentes, um beijo na boca. E assim, pela contradição, avançamos. Aliás, não é nada de novo neste Governo. Ainda no ano passado, um ministro apareceu e disse: "Demito-me!" E dias depois: "Tarã! Voltei!" Só que essa contradição, protagonizada pelo mesmo, soou um bocado a esquizofrenia. Agora, é mais elaborada. É dialética.
"DN" de 20 Jun 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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