Esperanças e passo atrás
Por Ferreira Fernandes
Aponta-se para o Mundial e os tolos olham para a bola. Mas quem está a falar de bola? Blaise Matuidi nasceu em Toulouse, França, de pais angolanos fugidos à guerra civil. Garotinho, foi com os pais para Fontenay-sous-Bois, no leste parisiense. Suponhamos que não, e a mãe o levava miúdo para Buenos Aires, talvez se tornasse um cantor de tangos. Foi o que aconteceu a Carlos Gardel, nascido também em Toulouse e que dizia: "Nasci em Buenos Aires aos dois anos e meio de idade." As pátrias são as das infância e felizes os que transportam essa pátria inicial pela vida fora. E felizes são os que, filhos dos tantos êxodos do séc. XX, tiveram uma pátria que os acolhesse e souberam querê-la. O filho dos Matuidi teve essa sorte, em Fontenay confirmou-se como francês que era pelo nascimento e vida. Não se tornou cantor de tangos, tornou-se naturalmente jogador de futebol, como tantos miúdos de Fontenay que jogaram, como ele, no clube Lusitanos, na vizinha Créteil, negros como ele, brancos como o Armando Lopes, dono do clube, beurs como os que iam à mesquita Es Salam - franceses, todos, torcendo pelo marselhês Zidane, ouvindo o cantor Yannick Noah e sabendo distinguir um queijo brie de um camembert. Que ontem Matuidi jogasse pela sua terra é o mundo que avança. Que 16 dos 23 jogadores argelinos não jogassem pela França onde nasceram e viveram, mas pela Argélia dos seus pais, é um passo atrás. Pessoas, ideias, países, alguma coisa falhou ali.
«DN» de 1 Jul 14Etiquetas: autor convidado, F.F
1 Comments:
O coração tem razões que a sua Razão não entende.
Já agora podia perguntar aos "detractores" se pagaram os impostos...
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