Não sabem…
Por Antunes Ferreira
Surrealista é o mínimo que pode chamar a uma nova
(des)medida deste (des)Governo. Também se poderia classificá-la em termos mais
duros, mas não vale a pena. Emendo. Ela também é inconcebível e quiçá autista.
Pode ter passado sem grande estardalhaço, porque os órgãos da comunicação
parece terem-na ignorado. Ou talvez estivessem ocupados com outros temas mais
graves e complexos como o rescaldo da participação da velha (a terceira mais…
idosa) equipa de Portugal na Copa 2014, ou a fraude criminosa de Ricardo
Salgado e o seu famigerado polvo que “tentacula” o BES.
Mas a Rádio Renascença – honra lhe seja feita – pôs a nu
mais uma alarvidade (des)governamental.
E o PTJORNAL pegou no assunto através de texto do jornalista João Miguel
Ribeiro, de cujo texto transcrevo passos; se calhar deveria usar a caixa alta,
mas toda a gente sabe infelizmente o nome do chefão do (des)Governo.
“O Ministério da Saúde
está a abrir vagas em alguns serviços ou valências hospitalares que o próprio Governo
pretende extinguir no quadro da reforma hospitalar. A denúncia parte do
presidente da secção regional do Norte da Ordem dos Médicos, avança a Rádio
Renascença.
Em declarações à
Renascença, José Miguel Guimarães denuncia a incompatibilidade nas vagas
anunciadas pelo ministério: "A portaria 82/2014, que tem a ver com a
reforma hospitalar, limita uma serie de valências nas especialidades médicas e
cirúrgicas a alguns hospitais. Entretanto, o Governo publica um despacho que
abre uma série de vagas para especialidades que, segundo esta portaria, vão
encerrar".
No centro
hospitalar de Gaia-Espinho, por exemplo, 100% das vagas abrem em serviços na
cardiologia pediátrica e cirurgia pediátrica, especialidades que vão deixar de
existir. O mesmo se passa com a cirurgia vascular e cirurgia plástica
reconstrutiva e estética, alerta José Miguel Guimarães. A solução, na leitura
da Ordem dos Médicos, passa por rever a portaria que prevê a reforma hospitalar
e manter os concursos.”
Finalmente despedi o Passos (ai se eu pudesse…), digo,
despedi os passos e transcrevi toda a notícia que está bem feita. E tem o
mérito de chamar os bois pelos nomes. Mas, que dizer deste aborto do Ministério
da Saúde? Está tudo no texto. Porém, ela representa um facto digno de nota. É frequente
um ministério entrar em rota de colisão com outro. Quando estive como assessor
da ministro Sousa Franco, pude ver que isso acontecia na altura da elaboração
do Orçamento do Estado (OE). O dinheiro não chega para tudo e para todos.
Mas no caso vertente a originalidade é evidente. A
originalidade, o desconcerto, a imbecilidade, a irresponsabilidade tocam as
raias da… indignação – e da interrogação. Será possível que isto aconteça?
Desgraçadamente parece que sim. O ministro Paulo Macedo deve andar um tanto
desatento ao que no seu ministério se passa. A greve dos médicos protestando
contra a “lei da rolha” que ele pretendia impor deu-lhe água pela barba.
De tal maneira isso o preocupou que recuou. O bastonário da
Ordem dos Médicos saudou na terça-feira o «recuo» do
Ministério da Saúde na publicação do Código de Ética, sem alguns dos pontos que
foram apontados como motivos da última greve dos médicos. José Manuel Silva
considerou que, com a publicação em despacho da versão final do Código de
Ética, cuja primeira versão levou os médicos a apelidá-lo de “lei da rolha”, o
Ministério da Saúde “soube reconhecer as razões da Ordem dos Médicos e da
própria sociedade que respondeu com grande veemência, em defesa da
transparência do SNS”.
Porém, no caso vertente, a descoordenação brada aos céus. Se
é que os céus têm algo a ver com esta cena anedótico-macabra. Dizem que o
Cristo, do alto da cruz pediu: Pai perdoai-lhes que eles não sabem o que fazem.
E no Ministério da Saúde não sabem…
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