Bem-vindos ao mundo cada vez mais novo
Por Ferreira Fernandes
Num tempo em que o Paquistão eram dois, o Oriental (hoje chama-se Bangladesh) quis a independência. Houve uma guerra civil e, num dia de dezembro de 1971, os independentistas bengalis, já vencedores, andaram pela capital Daca à caça de aliados dos paquistaneses. A guerra tinha trazido muitos jornalistas. Numa praça foram apanhados quatro "traidores" que foram "julgados" com a sanha que os "libertadores" gostam de demonstrar. Justamente, alguns fotógrafos, quando os guerrilheiros ameaçaram os presos com as baionetas, perceberam que havia ali alguma coisa de encenação trágica de que eles, jornalistas, eram parte: as mortes eram para a fotografia! Um grupo de fotógrafos (entre eles, célebres como Marc Riboud da Magnum e Peter Skingley da UPI) baixaram ostensivamente as máquinas e foram-se embora. Mas dois jornalistas da agência americana AP, Michel Laurent e Horst Faas (este, experimentadíssimo fotógrafo de guerra), ficaram, fotografaram as baionetas a entrar nos corpos e ganharam o prémio Pulitzer com a série Morte em Daca. Ficou uma polémica nunca resolvida: em nome da informação valia a pena ser instrumento do horror? Hoje, com os vídeos dos terroristas islâmicos, a decisão (em vez de "fotografar ou não?" é "ver ou não ver?") alargou-se ao mundo inteiro. E a polémica tornou-se um dilema: querem fazer-nos cúmplices de um ato feito para nos aterrorizar. Uma coisa é certa: nenhum de nós terá prémio.
«DN» de 26 Set 14 Etiquetas: autor convidado, F.F
4 Comments:
O que mais me incomoda no meio disto tudo é o facto de as televisões colocarem a bolinha vermelha em filmes para adolescentes passados depois da meia noite e transmitem sem rebuço os vídeos das ameaças de degolação às 13H00 e às 20H00!
Que pena ter que o ler nessa mistela infame e ilegal que é o "acordês"...
Costa
sobrevive-se
O texto de hoje, do Prof. Galopim, compensa isso...
"compensa isso.o que? você me explica, que eu sou burra?
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