17.9.14

O pântano

Por Baptista-Bastos
Circula o rumor, astutamente organizado, de que António Guterres é um bom candidato à Presidência da República. Não o é. À menor contrariedade foge espavorido, como se viu quando perdeu as eleições municipais, e refugiou-se num chamado Alto Comissariado para os... Refugiados. É sempre assim: começa com um rumor, prossegue com um grupo de "notáveis" a apoiar, segue-se um abaixo-assinado, e as coisas vão rolando, a bel-prazer do contemplado.
Contrario, abertamente, esta estratégia, por muito ardilosa que os seus mentores a hajam congeminado. Guterres está longe de ser o homem que o momento exige. Carece de carácter, é um espírito flébil, pouco consistente e indeciso. Estou à vontade: votei nele, burlado pela paixão que, então, dizia "devorá-lo": a educação. Revelou-se habilidoso no uso do idioma, mas inútil, manietado e medroso como primeiro-ministro. Designou o País de "pântano", por não estar à altura das circunstâncias imprevistas. E demonstrou ser ressentido, rancoroso e vingativo, quando saneou Vasco Graça Moura das funções de comissário para as Comemorações dos Descobrimentos, porque o escritor criticava, publicamente, a política do Governo. Acontece que Graça Moura realizava um trabalho magnífico, a justificar o prémio e o elogio e não o olho da rua e a execração. Na altura, verberei a condenação absurda, injusta e muito pouco democrática, e deixei de apertar a mão ao saneador, que teve o descoco de afirmar que perdera a "confiança política" no saneado.
Conheci António Guterres no escritório de João Soares Louro, na Cinevoz, onde trabalhei uns meses. Ali se reuniam, periodicamente, alguns socialistas conspirativos, enquanto eu me divertia um pouco e devagar. Guterres usava um bigode hirsuto, pouco convincente e perlado de gotas de suor, que limpava com pressurosa persistência. Possuía aquela forma patusca de falar que ainda mantém, que me suscitava alguma ironia. "Ria, ria; mas ele ainda vai ser primeiro-ministro", comentava Soares Louro. Como revelei, acabei por votar nele, fui enganado, fiz o que tinha a fazer, não oculto um certo desdém que por ele embalo, e não encontro nenhuma virtude que o recomende à Presidência.
O rumor organizado que pretende propô-lo constitui uma manobra de interesses marcada por tudo menos pela vocação de servir o País. E o apagamento ao nome de Manuel Carvalho da Silva, um nome que surgiu com a evidência oposta à rotina e aos jogos tenebrosos de poder, é mais um sintoma das características sombrias dessa moscambilha.
A questão não reside no ardil: pior do que Cavaco é impossível. A questão é de honra, de decência - ou, se quiserem, de patriotismo. Portugal não é um pântano, e os portugueses não são degraus para ambições, essas, sim, pantanosas.
«DN» de 17 Set 14

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4 Comments:

Blogger brites said...

não gosta do homem , é lá consigo...
demonizá~lo como o faz, com tiques de pide reformado é outra.

se quiser posso revelar-lhe coisas comparativamente assustadoras,quando militava politicamente...

quanto a saneamentos, nem lhe digo nem lhe conto.

em tudo é preciso ter bom senso, para não cair no ridículo , no mínimo!

17 de setembro de 2014 às 14:00  
Blogger José Batista said...

Tenho "inveja" de não ter escrito este texto de Baptista Bastos.
Também eu me enganei com (ou fui enganado pel)a "paixão" de Guterres pela educação. E a acção política dele foi (para mim) uma desilusão. E mesmo uma irritação, quando houve aquela coisa do "queijo limiano".
E também eu iria onde me fosse possível para pedir a Manuel Carvalho da Silva para ser candidato a Presidente (com maiúscula) da República.
Se não for ele, e não vendo no horizonte outro com a sua têmpera, e com o que julgo sejam os seus princípios, nem encontro motivação para votar.
De modo geral, os nossos governantes e representantes, a nível nacional, há já largos anos, com poucas excepções, têm sido umas nódoas.
Por isso, cumpre-me deixar um agradecimento a Baptista Bastos, na esperança de que outros, com (alguma) voz, tornem possível a candidatura de Carvalho da Silva à Presidência.

17 de setembro de 2014 às 18:20  
Blogger João Figueiredo said...

Desculpem a ignorância do macaco, mas agradecia um esclarecimento: o Baptista Bastos que assina esta infelicidade, é o mesmo que Vera Lagoa acusava de ter mandado as notícias para o jornal (Diário Popular?) onde trabalhava, sem sair do hotel em Casablanca (a não ser para petiscar e beber), apesar de ter sido enviado para Agadir (Marrocos), por ocasião de um grande terramoto que assolou a cidade.

Se é o mesmo, não me surpreende a habilidade com que, ao pretender atingir Guterres, acerta com a trampa na ventoinha.

17 de setembro de 2014 às 19:31  
Blogger brites said...


Para fazer campanha a favor de alguém não é necessário nem decente destruir o concorrente, é indispensável que revele os seus méritos e competências para o derrubar nas urnas.

Até acho que o Carvalho da Silva não gostará dos métodos. Mas nunca se sabe!...



17 de setembro de 2014 às 21:07  

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