O vírus de não aguentarmos vírus nenhum
Por Ferreira Fernandes
Dois missionários espanhóis, com ébola, são repatriados de África, internados no Hospital Carlos III, o centro de referência em Madrid para aquela doença, e morrem, o último a 26 de setembro. Portanto não foi ciclone que caiu sobre Madrid mas ação concertada e com tempo. Teresa, uma auxiliar de enfermagem, teve contacto, tal como 30 outros colegas, com os dois doentes. Não trago para aqui os equipamentos e procedimentos, deixo isso para os epidemiologistas. O que me interessa, aqui, é que Teresa foi limpar no dia 26 o quarto do segundo doente falecido e a 27 entrou de férias (e os colegas foram à sua vida). Ela foi a entrevistas de emprego, esteve com amigos, vizinhos e marido, foi depilar-se à cabeleireira, por ter febre chamou uma ambulância para o hospital do bairro, foi recebida nas urgências e a ambulância foi à sua vida buscar mais doentes de luxação no ombro. Onze dias na grande cidade, com o vírus de uma peste para a qual não se conhece a cura... Até voltar para de onde não devia ter saído, o Hospital Carlos III.
A questão qual é? É esta: o pessoal dos Médicos sem Fronteiras, em África, depois do último dia de contacto com um doente de ébola, passa 21 dias isolado e só depois sai da zona de quarentena. A Europa não está preparada para guerra nenhuma e, naturalmente, para esta também não. Os do topo talvez não saibam mandar. Mas há mais grave. Todos já esquecemos esta condição: há coisas que têm de ser.
«DN» de 9 Out 14Etiquetas: autor convidado, F.F
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