Malditos números económicos
Por Antunes Ferreira
QUANDO O ACTUAL (des)Governo anunciava que tudo ia correndo
no nosso país sobre esferas cada vez mais oleadas, aparece um
desmancha-prazeres a dizer que não é bem assim, antes pelo contrário. E, para
cúmulo, o autor do “crime” é o mesmo e fá-lo há algum tempo. Antevejo que para
Coelhos & Portas trata-se de minudências ocasionais, sem significado para a
conjuntura que é sólida; mas, noutro registo, ela também assim era: os dois
“actores” e o “compère” Cavaco garantiram a solidez do BES e foi o que se viu
Uma vez mais transcrevo notícia publicada na comunicação
social, contrariando alguns que me lêem – e sem veleidades retóricas - ainda
são bastantes. Tenho sido acusado de recorrer em demasia ao que se escreve e
diz na maioria dos órgãos, em detrimento da exposição da minha opinião pessoal.
No entanto, creio que citar as fontes possíveis e as que considero melhores é
procedimento de que me não envergonho e que por isso julgo ter cabimento. Cito,
pois, os dados divulgados pelo Banco de Portugal.
“A actividade económica em Portugal voltou a cair em Dezembro, descendo
0,9% em termos homólogos e mantendo-se em terreno negativo pelo quinto mês
consecutivo, segundo indicadores divulgados hoje pelo Banco de Portugal (BdP).
De acordo com os Indicadores de Conjuntura hoje (sexta-feira) revelados
pelo banco central, este valor é semelhante à descida registada em Novembro,
mas a actividade económica vinha a desacelerar desde Janeiro, quando o
indicador ainda estava em terreno positivo, fixando-se nos 1,1% de evolução
favorável.
Em Agosto o indicador virou a tendência e passou para
o negativo, então para -0,2%.
Os indicadores hoje divulgados dão conta também de uma
ligeira diminuição no consumo privado, com o indicador coincidente a fixar-se
nos 1,2% em Dezembro, contra os 1,5% do valor registado em Novembro.
No que se refere ao sentimento económico este sofreu
uma ténue evolução positiva, de 102,3 pontos para 102,4 pontos” (fim de citação)
Ora bem. No
dia anterior, ainda que de forma rebuscada Luís Marques Mendes, a propósito da
falta de aplicação do “estatuto remuneratório igual” veio informar no final do
Conselho de Ministros que o “mais alto magistrado da Nação” (a expressão que
aqui uso não e a do (des)governante, é minha ainda recordando amargamente os
tempos salazarentos…Mas, pelo andar da carruagem…) ainda não o promulgara.
Sejamos claros: o (des)Governo, que é bom, sacode a água do capote para cima do
utente do palácio de Belém. Pelos vistos não é o só o Banco de Portugal que é
um desmancha-prazeres; Cavaco também o é.
De supetão
ocorre-me a famosa afirmação de C. Silva quando primeiro-ministro, a propósito
da actuação do Tribunal de Contas então presidido por Sousa Franco: “força de
bloqueio”. Na altura, eu trabalhava lá e posso dizer, sem receio de
desmentidos, que a coisa foi recebida com bastantes sorrisos de comiseração e
desdém. E o Presidente do tribunal não aparentou ter-se incomodado muito. Tão
próximo como eu era dele, posso ainda garantir que foi assim.
Porém,
voltando aos indicados de Conjuntura, reitero que não sou economista muito
menos fiscalista, mas confesso que aprendi disso o q.b. com a minha passagem
pela Faculdade pelo TdeC e pelo Ministério das Finanças. Donde, creio que a
opinião que tenho não é de todo despicienda. Mas, tenho de acrescentar que a linguagem
usada pelos especialistas destes dois ramos é normalmente um tanto hermética,
(há, até, quem diga que é cabalística, mas não se deve ir tão longe…) logo
difícil de compreender pelo cidadão comum.
Não é,
felizmente, o caso. Os dados divulgados pelo Banco de Portugal são lineares –
porque são numéricos e as percentagens que deles decorrem logicamente também o
são. A não ser assim, poder-se-ia afirmar em tom popular que “a lógica é uma
batata” e a ”a Economia é um saco de gatos… Um ano tem 12 meses, de acordo com
o calendário por que nos regemos, isto é o gregoriano. E a ordem dos meses
´”curiosamente” sempre a mesma; o que quer dizer (mero exemplo…) que a Novembro
segue-se Dezembro e logo surge Janeiro e por aí fora num
círculo ininterrupto.
Portanto não
é difícil fazer-se comparações entre os mesmos meses de anos diferentes
partindo-se do mesmo princípio: a 2013 segue-se…2014 e a este… 2015.
Ultrapassado este período humorístico, aliás digno do Monsieur de La Fontaine, é de fácil
interpretação o divulgado pelo BdP: cinco meses consecutivos dos valores da
actividade económica sempre em terreno negativo têm vindo a decair face aos
números de 2013. Naturalmente em comparação com os homólogos de há dois anos.
Mais uma mentira da “dupla maravilhosa” que chefia o (des)Governo, seguida pari
passu pelo suposto PR. Os três heróis da fantasia referem-se indubitavelmente
ao crescimento da Economia. Para isso (e desta feita segundo o Amigo Banana)
teria de aumentar a actividade económica - e maldita diminui. Já não se pode
confiar em nada. E
nem em ninguém…
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