A Grécia e a União Europeia
Por C. Barroco Esperança
O novo Governo grego, o «sonho de crianças», como um estouvado e
inimputável PM lhe chamou na sua abissal ignorância, e subserviência
ainda maior aos poderosos, tem um problema com a União Europeia, mas
esta tem um problema maior com a Grécia.Há vários países cuja dívida jamais poderá ser saldada nas condições atuais e nem todos os governos suportam ver 20% dos seus cidadãos em confrangedora miséria e no maior desespero. Surpreende, mesmo em governantes a quem as madraças juvenis facultaram um curso tardio, quiçá por equivalência política, que não tenham aprendido no 4.º ano de escolaridade que um total é 100%, que o superavit de alguns países exige o défice de outros, que o capitalismo, descontadas virtudes conhecidas, tem intrínsecas maldades a corroê-lo e a atirar os povos para o desespero, a revolta e a revolução, sendo esta última a única situação em que os poderosos podem sair prejudicados.
A Grécia não é a causa do beco em que a União Europeia (UE) aparece mergulhada, é a consequência gravosa de a última ter deixado substituir políticos por contabilistas e, por fim, ter permitido aos incapazes e oportunistas o assalto às alavancas do poder.
A Grécia foi espoliada, desprezada e humilhada. Cansou-se e é fácil destruí-la. Hoje não é preciso enviar exércitos, basta deixá-la morrer à fome, mas, tal como sucede com uma infeção que não é tratada, é o corpo todo que se contagia e engana-se quem considera a cirurgia solução, esquecendo as metástases que alastraram para os órgãos nobres da UE, isto é, para os bancos dos países ricos que exageraram nos juros e perderão o capital.
A vitória do Syriza foi a vitória da democracia grega e não o regresso dos coronéis ao poder. Demonizar a decisão eleitoral de um povo é ter da democracia uma leve ideia e da vontade popular uma visão míope. Só mesmo um filho da troika a pode contestar.
A Grécia, berço da democracia e da civilização em que nos revemos, pode ter abreviado o fim desta época histórica da Europa mas não cabe a Alexis Tsipras a responsabilidade do fracasso. Ele apenas se limitou a perguntar à UE se há salvação.
É fácil esmagar o Syriza e satisfazer a obsessão de muitos. Impossível é, depois, insistir no sonho de uma Europa comum e na preservação da paz e da democracia. Adivinha-se facilmente onde despontarão as primeiras ditaduras.
Ponte Europa / Sorumbático
Etiquetas: CBE
10 Comments:
"...que o superavit de alguns países exige o défice de outros...
Como?! Em que medida é que um país que cobre mais impostos (ou venda património, ou tenha receitas de outra natureza) do que o total da despesa pública, e gere portanto um superavit, provoca necessariamente o deficit de outros países? A menos que se queira falar de déficits de balanças, comerciais ou outras. Mas isso não envolve directamente o Estado. O autor não sabe o que diz - fica bem no Syriza.
JMG:
Pelo que diz, todos os países podem ter superavit?!
Gostava de ler o seu tratado de macroeconomia.
Pode chegar a assessor de Passos Coelho.
Por fora dos meandros e da "metalinguagem" da economia, que algumas vozes conceituadas afirmam não ser uma verdadeira ciência, mas respeitando muito as leis da matemática, tanto quanto as consigo alcançar, concordo com o fundo e o sentido do texto de CBE. E espero que a Europa não caminhe para o abismo, pela mão de dirigentes que não parecem minimamente à altura dos tempos que correm.
Temo pelos meus filhos e pelos que agora são crianças ou jovens, mais que por um eventual fim dramático dos que já dobraram o meio século de vida.
Desejando profundamente estar enganado e ser cada vez mais justificadamente acusado de pessimismo.
TODOS os países podem ter superavit orçamental, que era o que se percebia do seu texto. Nem todos os países podem ter superavit comercial. Os défices comerciais corrigem-se ou com contracção do consumo nas importações, ou aumento de exportações, por ganhos de eficiência, de valor acrescentado ou ainda por desvalorização da moeda. Os Gregos querem o Euro, o consumo, os défices orçamentais e o financiamento, ou seja, querem a Lua. Não a terão.
Se o orçamento é uma previsão, todos os países podem ser superavitários mas a execução desiludirá muitos deles, na razão direta do superavit dos outros.
O que me preocupa, é que a Grécia queira regressar à política de nacionalizações. Se ao menos fosse para reduzir o fosso actual entre o preço trabalho e o lucro dos proprietários, o que não me parece o caso, adivinhando-se antes um desvio desse capital para o Estado grego sob a forma de impostos, resultando, em mais do mesmo para os cidadãos gregos, aliado a perda de competitividade e em consequentes medidas de corte de despesas que recaem sempre nos mesmos.
Se o governo grego, ao fazer as suas exigências, desse ao menos a garantia de reduzir o peso do Estado na vida dos cidadãos, propondo-se apenas a regular a gula dos proprietários, isso sim seria uma r/evolução que poderia bem influenciar os futuros actos eleitorais, no sentido de uma Europa mais saudável e solidária.
Leo.
Este comentário foi removido pelo autor.
Leo:
Grave é não ser possível tributar o imenso património da Igreja ortodoxa. A Constituição não o permite.
Carlos:
E isso só demonstra a promiscuidade e a influência da igreja naquele país. Com o ensino religioso obrigatório nas escolas e com a influência efectiva que ainda detém na opinião pública e à qual os políticos, por subserviência e cautela, se curvam.
Um Estado assim não se pode proclamar libertário, para além de muitos vícios comunistas que há muito se sabem desastrosos, mas ainda assim, deram um sinal, de que uma grande mudança a favor das populações poderá vir a ser alcançada, talvez na França, daqui a um par de décadas.
Leo:
Por estar substancialmente de acordo consigo, nada tenho a acrescentar.
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