Os Jihadistas
Por Maria Filomena Mónica
ANTEONTEM, o novo director do SIS
declarou não estar Portugal imune ao terrorismo jihadista. Talvez, mas o que
importa notar é que, ao contrário do que muitos pensam, a fé muçulmana não é um
monólito. Quando falamos de jihadismo estamos a referir-nos a uma franja
extremista que deseja conquistar o universo através do terrorismo, o que é
facilitado pela presença nos países ocidentais de milhões de emigrantes que
juram por Alá. Nos EUA, na Europa e na Austrália, o Islão é o segundo credo; em
França, um em cada dez habitantes segue a doutrina de Maomé; em Inglaterra, a
percentagem de pessoas que reza nas mesquitas é mais elevada do que a que
frequenta as igrejas anglicanas.
A primeira jihad teve lugar em 630 D.C., quando Maomé conquistou Meca e
garantiu aos fiéis que, um dia, viriam a ocupar as duas maiores cidades cristãs
da época, Constantinopla e Roma. Enquanto tal não acontecia, os seus exércitos
treinaram-se na conquista da Síria, Palestina, Egipto, Espanha, sul de Itália,
parte do norte de África e Portugal. Como se sabe, em 732 D.C, seriam
derrotados em Poitiers.
Há dois anos, fui a Paris. Em vez
de visitar o Louvre, decidi ir até ao departamento 93, Seine St-Denis, um dos
subúrbios mais pobres da capital. Ao lado da cidade grandiosa, limpa e bonita,
vi prédios desumanos albergando imigrantes. Na década de 1860, surgira o
círculo de vias rodoviárias que separa a cidade da banlieu. A desproporção é imensa: a cidade intra-muros terá 2 milhões de
habitantes, enquanto a área metropolitana albergará 12 milhões. Foi na banlieu que, em grande parte, cresceram
Cherif e Said Kouachi, os terroristas que mataram os redactores do Charlie Hebdo.
Ao lado deste tipo de jovens,
existem outros, pertencentes à classe média, que igualmente cederam à tentação
do extremismo. Na esteira de Edward Said, alguns intelectuais estabeleceram uma
correlação positiva entre pobreza e terrorismo, o que os torna incapazes de
compreender o que se passa. Olhe-se, por exemplo, o percurso de Ed Husain, por
ele descrito em The Islamist, o livro onde nos conta os anos em que
militou numa ala terrorista do Islão. Nascido e educado no East End londrino,
numa família oriunda do Bangladesh, tinha uma vida confortável. Aos 16 anos,
foi convidado por um amigo para se inscrever no YMO (Organização dos Jovens Muçulmanos), tendo aderido a um grupo cujo
objectivo era a construção do Califado. Em 1995, abandonava a militância e
registava a sua experiência.
Entre nós, também há intelectuais, como Boaventura de Sousa Santos, que
argumentam que o ódio muçulmano provém da miséria. Não só a tese é redutora,
como, ao contrário do que pensa, esta religião contém muitas seitas. Basta
comparar o que há poucos anos o sheique al-´Arifi, o imã da mesquita
frequentada pelos membros da Academia da Defesa saudita, afirmava -
«Controlaremos a terra do Vaticano; Roma será nossa e introduziremos o Islão
nesta cidade» - com o que o imã David Munir, da Mesquita Central de Lisboa,
disse há pouco: «O Estado Islâmico é um bando de loucos». «Expresso» de 24 Jan 15
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