Fim do Ano
Por Antunes Ferreira
Ponto final nos réveillons, nas farras no Casino, no
smoking, nas noites de loucura, nos confettis e no champagne Veuve Clicquout.
Este ano, Julião Costa, Costinha para os amigos e alguns conhecidos, decidira
que passaria o ano em casa, com a amantíssima Carlota e a prole composta de
dois machos (salvo seja) o Tonecas e o Quim Mané e de uma fêmea a Luisinha.
Compravam-se umas carnes frias, faziam-se umas mini sandochas de pão de forma,
roubavam-se ao aparador umas nozes sem casca, umas amêndoas idem e avelãs
aspas, as passas (doze para cada um dos Costas) e uma garrafa de espumoso, que
era mais barato, mas também tinha bolhinhas. Sem ironia era o que se chamava
uma decisão irrevogável.
Estava-se nisto, tocou o smartfone aquela música estúpida
dos Chutos, um dia iria dar-lhe uns pontapés e substitui-la pela Chuva da
Marisa. Era o compadre Serafim de Castro Verde, atão compadri como vai essa
moenga? E da passagem do ano? Festa? Onde? No Estoril? Contamos ir a Lisboa,
mas não sabemos onde abrir as garrafas de champagne, do bom,
Moët & Chandon, mêa-dúzia, que me foram oferecidas pelo engenheiro
Martinot da Somincor. Nós vamos ficar em casa e…
Pois então nós também, à home duma cana, vai a
famelga toda e… até podem dormir cá, a casa não é um palácio mas alguma coisa
se arranjará, tá fêto, aparecemos por aí pelas seis da tarde para uma cavaquêra,
pois claro Serafim vamos cortar na casaca de uns gajos que felizmente já se
foram é bem o merecem, ouve lá ó Julião, tambeim levamos cinco quilos de
camarão da Tailândia, comprado no Pingo Doce, palavra que é porrêro. Óptimo,
melhor é de certeza do que o Soares dos Santos que pôs a massa na Holanda e é o
portuga mais rico.
Dito e feito. Chegado o Serafim e o bando, que
aportava ainda uns patês, um bolo-rei e umas azevias com grão feitas pelas
mãozinhas da dona Gilberta, ela é a melhor cozinheira e doceira de Castro Verde
e Entradas. Faz uma cabeça de porco no forno que é de comeri e lamberi os
bêços. Chegou a meia-noite e os putos foram para as janelas, bater tampas de
tachos e panelas como é da tradição.
Por baixo do Julião morava um senhor viúvo mais
azedo do que limão… azedo. Face ao cagaçal telefonou para a esquadra, senhor
chefe isto não são horas de tal chavascal. Mande aqui um polícia para multar
todos os que me dão cabo dos ouvidos e da pachorra. Veio o agente Manuel
Palácios (assim dizia a placa) e logo ao entrar deparou com o Serafim, olha
quem cá está!; eram vizinhos e nados em Castro Verde, O sacana do andar de
baixo diz que é muito barulho e depois da meia-noite não se pode fazer
chinfrim…
Ó Maneli bebe um copito, estás de serviço, mas
ninguém vai saber.Nã senhori, terminei ao quarto para a mêa noite, estou aqui a
substituir um camada que trocou comigo. Oito “copitos” de champagne depois,
isto agora é outra coisa, o Palácios foi também para a janela, depois de pedir
umas tampas duma panela e dum tacho de alumínio e juntou-se ao grupo da
percussão. E o pulha do vizinho de baixo que se fod, oops, lixasse…
Etiquetas: AF
1 Comments:
Respeitinho, meu caro!
Já tem idade e devia ter, tento para isso.
BOM ANO NOVO
Enviar um comentário
<< Home