3.3.16

Livro de reclamações- Infâmia

Por António Barreto
O Dr. Carlos Costa é um homem decente e um profissional experimentado. Já deu suficientes provas da sua dedicação à causa pública. Exerce as funções de Governador num dos piores momentos da história do Banco de Portugal, da economia nacional e do sistema bancário. Para esse cargo, foi designado pelo Primeiro-ministro de um partido e confirmado pelo Primeiro-ministro de outro. Tanto quanto se sabe e é público, esteve isolado durante os períodos mais difíceis, como a bancarrota de 2011 e o acordo com a Troika. Os governantes e outras entidades refugiaram-se então atrás da independência do Banco e da sua verdadeira tutela, o Banco Central Europeu. Além disso, o Banco de Portugal teve de enfrentar sozinho os casos do BES, do BANIF, do NOVO BANCO e os restos do BPN. As autoridades portuguesas evitaram contactos com o Banco. Este colocou-se na difícil posição de charneira, entalado entre o governo nacional e o banco europeu. Ambos preferiram desaparecer do palco. Ambos deixaram que “o outro” ficasse com as responsabilidades, sobretudo se houvesse desastres, o que era praticamente inevitável.
Não tenho competência para avaliar a actuação técnica do Governador Carlos Costa. Não sei se cometeu erros. Como não sei se as suas responsabilidades são superiores às do Governo e às do BCE. Mas nada justifica o comportamento do Primeiro-ministro, que acaba de o maltratar. Em público e covardemente, pois sabe que não haverá contra-ataque. O Primeiro-ministro abriu uma desconfiança e uma quezília entre instituições, o que é inédito e grave. Portugal ficou a perder. O sistema bancário também. Não se percebe se o Primeiro-ministro agiu assim porque quer nomear um camarada, porque quer agradar aos seus aliados mais desbocados ou simplesmente porque é imaturo. Mas lá que é infame, é! E a moda pode pegar. O Dr. João Soares, Ministro da Cultura, teve atitude semelhante com o Presidente do CCB.
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DN, 28 de Fevereiro de 2016

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2 Comments:

Blogger SLGS said...

MUITO BOM. Subscrevo.
Quanto ao Ministro da Cultura (João Soares)dou esta achega:
http://observador.pt/opiniao/quero-posso-mando-chamo-me-soares-joao-soares/

3 de março de 2016 às 18:48  
Blogger José Batista said...

Seja.
Mas no caso do governador Carlos Costa, por que raio não tomou ele a iniciativa de sair ou de não aceitar ser reconduzido, depois de tão mal ficar perante o país? Será que, no Banco de Portugal, o governador é imune a quaisquer resultados da instituição?
Já a atitude de António Costa é, a todos os títulos, lamentável e imprudente.
E João Soares é apenas igual a si próprio: fraco político, cidadão sem mérito particular e, no dizer de Vasco Pulido Valente, escritor ao nível do inclassificável, merecidamente desconhecido.

3 de março de 2016 às 21:14  

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