25.2.16

Portugal e as Forças Armadas (FA)

Por C. Barroco Esperança
Os militares, após a Revolução de Abril, começaram cedo a ser ostracizados. Portugal, incapaz de fazer a catarse da guerra colonial, tão injusta quanto inútil e criminosa, viu depressa insurretos, nos libertadores, e patriotas, nos algozes da ditadura.
Só um país rico se podia ter dado ao luxo de esbanjar a formação e experiência técnica, administrativa e de liderança de oficiais e sargentos dos três ramos das Forças Armadas. Podia ter aproveitado, depois de afastados os próceres da ditadura, a honradez castrense que rivalizava com a dos melhores quadros que os partidos atraíram.
Os partidos preteriram sempre os militares, especialmente os que nos libertaram da mais longeva ditadura europeia, quando precisaram de autarcas e quadros da Função Pública. Afastaram os que, em comissão de serviço, integravam a PSP; até da GNR afastaram os oficiais da Academia Militar numa progressiva desvalorização das Forças Armadas e do carácter simbólico da unidade nacional que representam.
O fim do Serviço Militar Obrigatório (SMO) ‘exigido’ pelas juventudes partidárias do CDS, PSD e, até, do PS, com honrosa exceção da Juventude Comunista, impediu que as FA refletissem a diversidade do País, incorporando jovens de ambos os sexos, durante 1 ano, que seria de serviço cívico para os excedentes das necessidades militares.
Assim, transformam-se as FA de um País na guarda pretoriana de um qualquer regime. Quando os símbolos da unidade nacional rareiam ou se diluem é o SMO que aglutina o que resta da identidade nacional num mundo globalizado.
O direito à deserção ou o dever de sublevação contra uma ditadura transforma-se, numa democracia, na obrigação de obediência a decisões legítimas, onde um ano de vida seria uma necessidade para o País e a experiência enriquecedora para os jovens.
Além do recrutamento que as FA permitiriam, para as polícias, havia a renovação anual de efetivos, onde os soldados são velhos aos 30 anos e os oficiais são novos aos 50, sem os custos incomportáveis de FA em regime de voluntariado, como ora sucede.
Os responsáveis pelo fim do SMO lesaram a autonomia e identidade do País. Quando já nenhum país tinha colónias, a ditadura, de tão retrógrada, foi a última na descolonização e preferiu a derrota que inviabilizou uma negociação que evitasse a tragédia.
Com a cultura democrática que o 25 de Abril legou, as FA podiam ser o povo fardado em vez de correrem o risco de se tornarem na guarda pretoriana de um novo polvo civil.
Há erros irreversíveis e cedências que se tornam crimes.

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3 Comments:

Blogger opjj said...

Começa por elogiar os militares e depois diz que a guerra estava perdida. Eu que estive no terreno 100% operacional acho o contrário, excepto na Guiné onde a situação era pior.
Duvido que alguma vez os movimentos de libertação quisessem negociar alguma coisa. Passados + de 40 anos eles ainda não se entendem.
A História será conforme o historiador, e este quase nunca a viveu.

25 de fevereiro de 2016 às 15:51  
Blogger Bmonteiro said...

«Guarda pretoriana» já temos, a GNR.
Quanto a FA, nunca depois da queda do muro foi equacionado o seu destino
no novo contêxto português/europeu.
Com a incultura, desinteresse e irresponsabilidade das direcções políticas,
foram (as FA) fazendo por si e pela corporação.
Orgânica desmesurada, sistemas de armas anómalos. Largas centenas de milhões em equipamentos desajustados e até inúteis.
O caso SMO, diz bem da ignorância e demagogia partidária: PSD com quatro meses?
Responde o PS com três!
Advogar o SMO agora, revela como somos capazes de continuar 'idealistas'.
Contra corrente, que a dinâmica social não queria nem quer.A população ou pôvo do país.
Qto à guerra não perdida, não iremos saber se sim ou não.
Contudo, sabe-se como era uma guerra destinada a ser perdida, confirmado na Nó Górdio e em Mucumbura.
E no caso da Guiné, a repetir o caso Goa, destinados a um Dien Bien Phu à nossa dimensão.
Tivemos Spinola, os franceses tiveram De Gaulle.

28 de fevereiro de 2016 às 21:07  
Blogger opjj said...

Ao Sr. Bmonteiro.V.Exª, participou na operação Nó Górdio? Se participou sabe que só havia guerra nas fronteiras. No caso Rio Rovuma e no moutro lado. Moçambique percorria-se de Sul a Norte, 2000Km sem qq problema.O que não acontece hoje.

29 de fevereiro de 2016 às 16:38  

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