França – mais um massacre
Por Antunes Ferreira
Claro que é impossível pôr um polícia, um gendarme ou um
soldado atrás de cada cidadão. Poderá dizer-se que as armas oficiais são um
elemento de dissuasão, o que efectivamente é verdade, mas em muitos casos não
chega. Depois da brutalidade criminosa que se passou em Nice, mais precisamente
na Promenade des Anglais, e que
saldou (até à data em que escrevo este texto) por mais de oitenta mortos e cem
feridos, metade dos quais em estado grave a França, naturalmente, vive em
estado de choque.
A intervenção do Presidente François Hollande foi uma
tentativa de aliviar a tensão em que se encontram os seus conterrâneos e não só.
Mas, infelizmente não trouxe na verdade nada de novo; de resto, que se
esperaria mais? O prolongamento do estado de emergência por mais três meses e o
reforço dos elementos de segurança, e a continuação do país no combate ao Daesh
no Iraque e na Síria. Apenas um pormenor se destaca entre estas medidas: a
convocação de cidadãos antigos militares para participar nessa enorme tentativa
de assegurar a segurança. Caso semelhante só é possível encontrar aquando das
guerras mundiais.
Ora, esta mortandade horrível aconteceu quando vigorava o
estado de emergência e quando os serviços de segurança estavam na rua
preparados para possíveis ataques terroristas como os que se verificaram no
Charlie Hedbo, no ataque ao supermercado judeu e na carnificina do Bataclan.
Sendo assim, o apelo à calma e à serenidade de Hollande é muito importante, mas
não impede que permaneça, aliás justificado, o medo dos cidadãos que se
perguntam quando será que um novo ataque terrorista se verificará?
É em momentos hediondos como este que o desnorte das pessoas
é mais evidente. Já se sabe quem foi o assassino, já se sabem as nacionalidades
de muitos dos mortos e dos feridos, incluindo que entre estes últimos há um
Português. Perdoem-me a afirmação: este último pormenor pode ser considerado
peanuts, quando comparado com a dimensão da tragédia. Com isto não quero dizer
que a preocupação com a vida de compatriota é de somenos importância; nada
disso. O contrário seria renegar a Pátria que vinha de uma vitória precisamente
contra a França no Europeu 2016. O que é que se diga que um não tem nada a ver
com outro. Infelizmente as coisas coincidiram, nada mais.
Além disso pergunto-me uma outra vez que é feito da
(des)União Europeia em matéria absolutamente necessária de defesa em
ocorrências como esta? Trocas de informações entre os países que ainda estão
integrados nela? Forças policiais e militares conjuntas, o que quer dizer
europeias? A realidade é que os países europeus, sejam ou não participantes na
(des)EU, estão impotentes contra estes morticínios horrendos.
Restam as condolências e as declarações de solidariedade.
Até agora na Europa há que registar (e porque oriundos da nossa casa) Marcelo
Rebelo de Sousa e António Costa; Papa Francisco, Theresa May nova
primeira-ministra do Reino (des)Unido, Mariano Rajoy, Charles Michel,
primeiro-ministro da Bélgica, Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu e
outros. Fora da Europa, Barak Obama, presidente dos EUA, Justin Trudeau,
primeiro-ministro do Canadá, Michel Temer, presidente em exercício do Brasil,
Juan Carlos Varela, presidente do Panamá e outros.
No entanto, todas estas declarações não passam disso mesmo –
declarações de intenção. O que pode servir de alguma consolação da França, mas
não restitui a vida aos mortos nem a saúde aos feridos.
Em comunicado, Helena Fazenda adianta que as forças e serviços de segurança
continuam a manter «o reforço da vigilância e segurança em áreas e locais de
maior concentração de pessoas».
A secretária-geral do Sistema de Segurança Interna sublinha que todas as
foças e serviços de segurança que integram a Unidade de Coordenação
Antiterrorismo «estão a trabalhar em completa articulação e a acompanhar os
acontecimentos registados em Nice, mantendo contacto com as suas congéneres e
recolhendo todos os dados necessários à sua avaliação».
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