A UBER, os taxistas e os tiros no pé
Por C. Barroco Esperança
Quem já teve necessidade de apanhar um táxi no aeroporto de Lisboa, para um pequeno trajeto, e não sofreu ameaças, incorreções e abusos no custo, pensará que os taxistas são vítimas prediletas da má vontade dos portugueses.
Com a injustiça e leviandade de todas as generalizações, é fácil considerar os taxistas de Lisboa como um grupo socioprofissional mal frequentado. E não se podem absolver as empresas que permitem veículos sujos e condutores insolentes, não só os do aeroporto.
A ANTRAL – A «Associação nacional dos transportadores rodoviários em automóveis ligeiros», tem largas culpas na deterioração do serviço de táxis, deixando dúvidas sobre a idoneidade dos condutores. A música e o relato de futebol, com decibéis que o ouvido normal não suporta, coexistem com o terço dependurado no retrovisor, a Sr.ª de Fátima fluorescente do tablier, fotos dos filhos ou da sogra, autocolantes de clubes de futebol, a condução perigosa, e a recusa de um recibo cujo pedido é considerado afronta.
Tenho, pois, a má impressão de quem já se sentiu desconfortável e assustado, suportou a apologia do salazarismo e a recusa de recibo. Nunca percebi, aliás, a atração dos taxistas pela extrema-direita que, de tão frequente, parece um paradigma corporativo.
A última manifestação, junto ao aeroporto, justamente o local de que há mais queixas, a boçalidade das declarações de um clone de Trump à TV e a vandalização de um veículo da Uber, só contribuíram para reforçar e generalizar a sua má imagem.
E, no entanto, a UBER é o paradigma de um novo empreendedorismo de uma economia desregulada, uma ameaça para as empresas de transportes transparentes, a subversão das regras que asseguram um mínimo de garantias aos trabalhadores.
A Uber entrou em Portugal, pelo Porto, há 2 anos, com uma fonte oficial do Governo de Passos e Portas a dizer que a empresa tecnológica norte-americana Uber não concorria diretamente com o serviço de táxis, e o marido da ministra Cristas a negar a sua ligação.
Depois disso, em janeiro de 2015 foi o CDS o primeiro grupo parlamentar a receber a empresa onde a Google e o Goldman Sachs são investidores de referência, e quando o IMT ainda considerava a sua atividade à margem da legislação portuguesa em vigor.
Não sei se é legítimo ou possível impedir a presença da Uber e de outras empresas para as quais o ultraliberalismo abriu espaço. O Governo legislou preenchendo uma lacuna e a Uber beneficiou do comportamento dos taxistas e da inépcia dos seus líderes sindicais.
Tenho péssima impressão dos taxistas de Lisboa, mas tenho pior da Uber.
Ponte Europa / SorumbáticoEtiquetas: CBE
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