7.11.16

Sem emenda - Os votos e os euros


Por António Barreto
Os governos “ganham” sempre os debates orçamentais. Assim fez o PS. Revelou compaixão e vontade de distribuição de rendimentos. Não soube mostrar investimento ou crescimento, mas não era esse o objectivo. O governo conseguiu disfarçar a sua excessiva dependência do Bloco e do PCP. Saiu airosamente do debate. O PCP e o Bloco exibiram a sua enorme influência sobre o governo. O PSD e o CDS não acertaram no modo, nem no estilo. Não argumentaram e não conseguiram mostrar o que querem.

Era tema adequado para uma discussão séria. Havia diferenças bastantes para que os afrontamentos, sem deixar de ser enérgicos, fossem civilizados e intelectualmente estimulantes. Mas foi como se não houvesse matéria. Os protagonistas entregaram-se voluptuosamente ao berreiro habitual, com a nova agressividade que passa por pensamento político elevado. Inventaram, mentiram, acusaram, denunciaram e prometeram com igual exuberância e sem hesitação! Falaram para os crentes e os crentes aplaudiram. Acreditam em António Costa os que acreditam em António Costa. Acreditam em Passos Coelho os que acreditam em Passos Coelho.

Houve meios e alguma habilidade para fazer um orçamento que aguente a aliança e dê um pouco de conforto a quem mais precisa: pensionistas, doentes, idosos, crianças e desempregados. Mas toda a gente sabe que esta ginástica não pode ser repetida muitas vezes. Vai ser preciso mais dinheiro. Vai ser necessário investimento. É indispensável o crescimento.

É o problema do presente. Quem quer governar tem de arranjar prosperidade, o que quer dizer rendimento, o que significa emprego, o que implica investimento. Para haver investimento, tem de se procurar quem tem capital. Os privados ou o Estado. Dentro do país ou no estrangeiro. Com meios próprios ou fiado.

Ora, por cá, as coisas estão mal. Falido, o Estado vive do crédito, paga milhares de milhões de juros, aumenta os impostos a pagar por uma população fiscalmente exaurida. Crédito há cada vez menos, cá dentro nenhum, lá fora ainda algum cada vez mais caro. Dinheiro português quase não há, acabaram-se praticamente os capitalistas portugueses, a poupança segue o mesmo caminho. Mais impostos parecem impossíveis. Dinheiros públicos, só os da União Europeia, apesar de tudo insuficientes, mas que se destinam a infra-estruturas, pouco à economia produtiva e muito pouco à competitividade. A conclusão é simples: ou dinheiro privado internacional ou nada!
O problema é que o dinheiro privado internacional põe condições, incluindo políticas. Exige vantagens e benefícios. E requer condições gerais favoráveis à actividade económica privada.

Apesar de acreditar mais no investimento público, o PS gosta tradicionalmente de investidores privados. A maior parte das vezes para poder criar emprego, desenvolver a economia e manter-se no poder. Os seus aliados, PCP e Bloco, detestam o investimento privado, a não ser que seja pequeno e obediente. Abominam o investimento externo, qualquer que seja.

O governo procura o que lhe falta: euros e votos. A aliança dá-lhe os votos, mas gasta-lhe os euros. O governo sabe que, se conseguir euros, acabará por ter votos. Mas também sabe que se conseguir muitos euros, os seus aliados tiram-lhe os votos. Os euros podem produzir votos, mas os votos não produzem euros.

As fantasias das nomeações para a CGD deixam qualquer pessoa perplexa. Uma trapalhada que só governos inexperientes eram capazes de organizar. Mas conseguiram. Ao mesmo tempo, por acaso ou por deliberação, aprende-se mais uma vez que a CGD fez favores e se entregou a negócios ruinosos de licitude duvidosa. Mais casos para ilustrar a promiscuidade entre público e privado. Mas ficámos a saber que aqui não há inocentes: público e privado; capitalistas e políticos. Se, ao menos, houvesse Justiça!

Pior é que, sem banca à altura, pública e privada, a economia não vai conseguir. O país também não.
DN, 6 de Novembro de 2016

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4 Comments:

Blogger Ilha da lua said...

Este comentário foi removido pelo autor.

8 de novembro de 2016 às 14:42  
Blogger Ilha da lua said...

Numa altura, em o país não cresce, em que o investimento privado é insuficiente, o investimento internacional não aparece, (pelas razões que se sabe) e com as instituições financeiras fragilizadas, o debate sobre o OE deveria ser fundamental. Para isso, era necessário que os partidos fizessem o trabalho de casa, para não assistirmos às confrangedoras discussões, de gente mal preparada, onde o único interesse parecem ser as querelas partidárias, em vez do real interesse do país. Pelos vistos, os votos são mais importantes que os euros... O votos são fáceis de conseguir.Bastam algumas demagogias, uns tantos ou quantos escândalos tirados da cartola( de preferência sobre os que os antecederam)...Já os euros são mais difíceis de conseguir.É necessário trabalhar, estudar, planificar,criar condições equilibradas para ultrapassar a crise, tomar atitudes sérias(que nem sempre agradam a todos),gerar consensos.. .enfim uma "trabalheira"

8 de novembro de 2016 às 14:42  
Blogger Ilha da lua said...

Numa altura, em o país não cresce, em que o investimento privado é insuficiente, o investimento internacional não aparece, (pelas razões que se sabe) e com as instituições financeiras fragilizadas, o debate sobre o OE deveria ser fundamental. Para isso, era necessário que os partidos fizessem o trabalho de casa, para não assistirmos às confrangedoras discussões, de gente mal preparada, onde o único interesse parecem ser as querelas partidárias, em vez do real interesse do país. Pelos vistos, os votos são mais importantes que os euros... O votos são fáceis de conseguir.Bastam algumas demagogias, uns tantos ou quantos escândalos tirados da cartola( de preferência sobre os que os antecederam)...Já os euros são mais difíceis de conseguir.É necessário trabalhar, estudar, planificar,criar condições equilibradas para ultrapassar a crise, tomar atitudes sérias(que nem sempre agradam a todos),gerar consensos.. .enfim uma "trabalheira"

8 de novembro de 2016 às 14:42  
Blogger Ilha da lua said...

Este comentário foi removido pelo autor.

8 de novembro de 2016 às 14:42  

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