E se Trump ganhar?
Por Antunes Ferreira
Aquando da corrida à Casa Branca em que os concorrentes eram
Michael Dukakis e George Bush (pai) acompanhei a campanha eleitoral que na
altura (1988) foi considerada a mais suja de sempre com a intervenção de forças
aparentemente exteriores aos partidos representados pelos dois políticos:
Dukakis, pelos Democratas; Bush, pelos Republicanos.
Face a tais condições que eram na altura inéditas,
impensáveis, torpes e porcas, vi-me e desejei-me para transmitir
quotidianamente aos leitores do “Diário de Notícias” o que se estava a passar
nos Estados Unidos da América e, sobretudo nos bastidores dessa cavalgada que
rapidamente se transformou num rodeo sem margens limitadoras, sem regras, sem
decência e sem pudor.
Quase até à contagem dos votos depositados nas urnas,
Dukakis que fora por duas vezes governador do estado de Massachusetts levava vantagem nas
previsões; mas perderia as eleições. Quando me perguntei por que bulas tal acontecera,
percebi que a porcaria tinha tomado conta da campanha. As agências de
publicidade contratadas pelos republicanos tinham feito e bem o trabalho de
casa. Resultado: o desprestigio total para o democrata.
Recordo-me
dum pequeno filme em que o candidato
Dukakis aparecia a comandar um tanque para combater o slogan que de
guerra ele nada percebia. Pois os seus apoiantes fizeram o que jamais poderia
acontecer: forneceram-lhe um capacete bastante maior do que a cabeça do candidato.
Isto foi apenas um exemplo. Disse-se depois
que fora um infiltrado republicano que trocara o capacete original pelo que
motivara o ridículo da cena.
A última entrevista com o apresentador Bill Crosby foi o desastre final.
O tema era o porte de armas no país. O democrata disse que era contra, como
dissera durante toda a campanha; Bush afirmou que as armas, além de serem uma
posição tradicional nos USA eram fundamentais paara a defesa pessoal. Dukakis ali
perdera as eleições. Bush já era o sucessor de Ronald Reagan.
Mal pensavam os analistas e os comentadores políticos americanos que em
2016 uma campanha reles viria a bater a de 1988 – e por larga margem de
agressividade e de má educação. Entre Hillary Clinton e Donald Trump a
violência oral atingiu níveis escandalosos. Tudo lhes serviu de armas de
arremesso. Falando à maneira portuguesa, com as necessárias alterações serviu
tudo, mesmo tirar olhos.
As sondagens seguiram de perto o que acontecera nas presidenciais que
acompanhei ao vivo: a Senhor Clinton foi subindo com um balão cheio de gás
enquanto Trump descia. A teoria dos vasos comunicantes parecia estar a
funcionar correctamente e o candidato do partido Republicano via alguns dos
seus correligionários abandonar o barco em vias de naufrágio.
Mas eis que inopinadamente o director do FBI, James Comey, um
republicano, decide reabrir o já calino processo dos e-mails da ex-Secretária
de Estado. Donald Trum rejubila e apela à “morte” da sua adversária, o que é
tipicamente americano. Pois não é ele que defende que cada um dos seus
concidadãos deve ter o direito de ter uma arma? E aqui aparece a reprise:
invertem-se os resultados das sondagens. Trump passa para a frente de Hillary.
Dos americanos há que esperar tudo. Uma vez em Dallas ouvi do mayor uma
sentença que me deixou preocupado: In
the United States who has money has power.
E se Trump ganhar as eleições?
Etiquetas: AF
2 Comments:
Se o Trump ganhar,"os americanos devem estar loucos"...mas,possivelmente e infelizmente será um facto "who has money has the power"
Pela minha parte, já tenho imensas saudades de Obama.
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