Sem emenda - O Jogo do Rapa
Por António Barreto
O Governo já aprovou. Os “Aliados” também. Ainda há margem para negociação e ajuste, mas o essencial está ali. Seguiu para o Parlamento, com cedências e compromissos assumidos. Como é hábito. Quem sempre protestou contra o facto de as negociações orçamentais serem feitas “nas costas dos deputados” está agora silencioso. É normal: as negociações parlamentares são precedidas ou seguidas de discussões a dois ou três, mais ou menos discretas. Só se queixa quem não faz parte dessas conversas.
O Governo já aprovou. Os “Aliados” também. Ainda há margem para negociação e ajuste, mas o essencial está ali. Seguiu para o Parlamento, com cedências e compromissos assumidos. Como é hábito. Quem sempre protestou contra o facto de as negociações orçamentais serem feitas “nas costas dos deputados” está agora silencioso. É normal: as negociações parlamentares são precedidas ou seguidas de discussões a dois ou três, mais ou menos discretas. Só se queixa quem não faz parte dessas conversas.
Mais do que nunca, o orçamento é
objecto de luta intensa. As razões são evidentes. Primeiro, há o confronto
entre governo e oposição. O dinheiro é pouco, a Europa está a ver, as agências
de “rating” também, o endividamento continua a crescer, a economia estagna e o
investimento reduz. Ora, as promessas de acabar com a austeridade e iniciar um
novo ciclo de prosperidade eram muitas. Sem resultados visíveis. O que é
preocupante.
Segundo, há a luta entre aliados.
Os partidos que apoiam o governo têm de satisfazer clientes, não podem ficar de
mãos a abanar. Entre estes, as negociações são mais duras do que as
convencionais entre situação e oposição. O PCP e o Bloco têm de mostrar alguma
coisa: taxas e sobretaxas, aumentos de pensões e de subsídios sociais. Seja o
que for, mas que permita justificar a “paz social” que se vive nas escolas, nos
hospitais, na administração e nos transportes públicos. O PCP e o Bloco
abandonaram a rua, mas é preciso que tal não se perceba.
O orçamento é a folha de contabilidade
de mais de metade da economia portuguesa: competir por fatias de orçamento é
lutar pela divisão de poder, pelos interesses das classes e pelos ganhos e
perdas. Como pouca coisa vive fora do orçamento, é o prato essencial. A maior
parte dos grupos económicos depende das encomendas do Estado, dos investimentos
públicos e dos fundos europeus. As obras também. Tal como o novo emprego.
Subsídios, bolsas, pensões e benefícios dependem do Estado. As discussões que
se conhecem e de que a imprensa se fez eco são relativas aos pagamentos ao
Estado ou do Estado. Não há praticamente quem queira debater a economia, a
actividade das empresas, os planos de investimento, as prioridades industriais
e de serviços ou as condições de crédito à actividade económica. Nada disso
parece ter qualquer importância! Como também não foram marcantes as discussões
sobre o Serviço Nacional de Saúde ou o sistema público de educação. Na verdade,
a discussão aproximou-se muito daquele antigo Jogo do Rapa, em que o pião
ditava a sorte de cada jogador: Rapa, Deixa, Tira e Põe!
Como toda a gente sabe que a
prosperidade não é possível para breve, que vai ser necessário fazer
sacrifícios, que as ameaças de sanções e de cortes de fundos são reais e que o
investimento continua a não dar sinais de vida, o que é mais interessante é ver
que ninguém, da situação e da oposição, quer ficar na fotografia. Muito pelo
contrário, a agitação é toda para culpar os outros do que vai correr mal.
O problema é que quanto maior for
a economia no orçamento, ou dele dependente, menores são o crescimento e a
eficácia. Como menor é o investimento privado. É verdade que aumenta a
capacidade de decisão política e que assim se consolida o velho lugar-comum do
primado da política, isto é, da subordinação da economia à política. Convém no
entanto recordar que alguns dos maiores desastres da humanidade, como a
colectivização forçada soviética, a revolução cultural chinesa e a economia de
guerra nazi são boas ilustrações desse princípio. Cá em Portugal, a ditadura, a
Censura, a guerra em África, o analfabetismo persistente, o condicionamento
industrial e a nacionalização de empresas são também, à nossa escala, bons
exemplos da “política no posto de comando”. É bom recordar!
DN, 16 de Outubro de
2016
Etiquetas: AMB
3 Comments:
Dr. Barreto, como sempre, com muita lucidez, a pôr o dedo na ferida.
Mas quem ouve?????????????????
Pensões. Só gente sem um pingo de vergonha é que retalia contra os pensionistas mais pobres abaixo de 275€.
No governo PAF pensão de 239,99€ teve de aumento em 2014- 2,40€ em 2015- 2,42€
No governo PS,PC,BE de 245,78€ " " 2016- 0,97€ 2017- 1,72€
Retaliar contra pobres e falam em Solidariedade? Cínicos!
Cumps
Diz o povo e tem razão...
"Casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão"
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