Sem emenda - A luta e a paz
Por António Barreto
É uma velha questão política, filosófica e até estética. A paz é mais importante do que a guerra, tal como a unidade e o diálogo são mais necessários do que a luta e o combate. Mas a luta e a guerra merecem mais admiração do que a paz. Há frases e momentos na nossa história cultural bem reveladores desta dualidade. Por exemplo, o dito de Brecht segundo o qual “é violento o rio que tudo arrasta consigo, mas ninguém se lembra de dizer que são violentas as margens que o apertam”. É uma espécie de emblema para a luta de classes e o combate permanente.
É uma velha questão política, filosófica e até estética. A paz é mais importante do que a guerra, tal como a unidade e o diálogo são mais necessários do que a luta e o combate. Mas a luta e a guerra merecem mais admiração do que a paz. Há frases e momentos na nossa história cultural bem reveladores desta dualidade. Por exemplo, o dito de Brecht segundo o qual “é violento o rio que tudo arrasta consigo, mas ninguém se lembra de dizer que são violentas as margens que o apertam”. É uma espécie de emblema para a luta de classes e o combate permanente.
Aliás, são vários os hinos nacionais que, em vez de festejar a paz, o trabalho e a comunidade, glorificam o heroísmo bélico. O nosso louva a guerra e ordena cruamente que, “contra os canhões”, se deve “marchar, marchar”… É o resultado da inspiração francesa, sempre a mesma, da horrenda Marselhesa que promete que um dia “o sangue impuro” dos inimigos estrangeiros “encharque o nosso solo”!
De Mário Soares, nestes dias de homenagem, festejou-se a luta, raramente a paz. O combate, não o diálogo. É pena. Na verdade, o seu contributo para a paz foi o decisivo e o mais durável.
Os que alimentam esta obsessão pela luta garantem que com ela virá a libertação, a salvação, a dignidade e a liberdade… Mas esquecem evidentemente que a luta também dá guerra, violência, desordem, motim e morte de inocentes…
Vive-se em Portugal, há cerca de um ano, um agradável clima de paz social. Greves e perturbações diminuíram drasticamente com a tomada de posse deste governo. Foram desmobilizadas as brigadas de contestação espontânea e os grupos de arruaceiros que fizeram a vida negra a Passos Coelho e a Cavaco Silva. Eram poucos, mas eficientes. A cumplicidade das televisões, que necessitavam de material, era trunfo inestimável. O silêncio do PS, que esperava dividendos, ajudou à manutenção do clima de crispação.
Verdade seja dita que a situação económica e social, assim como a falta de perícia do governo, eram de molde a criar descontentamento. Mas já tínhamos vivido situações igualmente difíceis sem movimentos contestatários similares.
Passado pouco mais de um ano depois das eleições, a paz social é a regra. Os cuidados médicos ainda não melhoraram, mas a contestação é agora cordata. O funcionamento das escolas não é muito diferente, nem mais favorável ou eficaz, mas a controvérsia é agora afável. Os transportes públicos não conheceram uma evolução positiva, mas a perturbação no sector é inexistente. Em muitas áreas de altercação tradicional, como no universo dos precários, na Função Pública, nos portos ou nas universidades, vive-se pacificamente. Ainda bem. É melhor para o trabalho e a produção, para a qualidade de vida e a produtividade.
O Bloco tem grande influência nos meios de comunicação, na imprensa e nas televisões. E influencia os socialistas, sobretudo por razões culturais. Mas também por uma espécie de ciúme: os socialistas gostariam de parecer tão inteligentes quanto os bloquistas. Já o PCP tem indiscutível influência nos sindicatos e nas instituições públicas como os serviços de saúde e de educação, os funcionários, as magistraturas ou as polícias. Em conjunto com o PS e o governo, Bloco e PCP têm contribuído para criar um clima excepcional de paz social. O que é bom. Com ou sem crise, a paz social é sempre melhor do que a luta de classes, o conflito regional ou a guerra de religiões.
É possível que a política actual saia muito cara. Que os problemas aumentem. Que não haja condições para o investimento futuro. Que os défices piorem. Que as taxas de juro aumentem. Tudo isso é possível. Mas é melhor chegar lá em paz do que em guerra social, em piores condições para resolver os problemas. O “quanto pior, melhor” nunca teve bons efeitos. Nunca resultou. A não ser para pior.
DN, 15 de Janeiro de 2017
Etiquetas: AMB
2 Comments:
Com tantas mortes nas FESTAS deste NATAL e JANEIRO tudo por culpa de PASSOS
COELHO. Com o triplo de mortes e gente durante dias nas macas, não se ouve um protesto! Quantas vezes gritava o nosso 1ºMinistro e afectos.Até o DR. MORTE que levou tanta pancada e foi tão sacrificado, convidaram para Presidente da CAIXA.
Cambada de cínicos e de falta de princípios.
uM PARENTE MEU COM UMA PENSÃO DE 245,55€ TEVE UM AUMENTO DE 1,2€ (4 centimos por dia)
Oxalá me engane, a coisa vai ficar preta!
Cumps
O progresso civilizacional deveria conduzir os homens ao diálogo e à paz Sempre pensei que no séculoXXl,os homens já tivessem muito perto desse objectivo No entanto perante as circustâncias do mundo actual,perante as constantes ameaças aos direitos humanos,às conquistas democráticas,às ameaças terroristas,começo a ouvir,o que pensava já estar ultrapassado..."por vezes é preciso fazer a guerra para conseguir a paz"
Enviar um comentário
<< Home