GEOLOGIA, UM PILAR SOBRE QUE ASSENTA A SOCIEDADE
Por A. M. Galopim de Carvalho
O cidadão comum, como é o meu
caso, dificilmente entra nos “media”, a fim de chamar a atenção para problemas
que entenda merecerem atenção de quem de direito. Assim sendo, meios de
comunicação, como os Blogues em que participo ou o Facebook, são os dos que
habitualmente disponho para as intervenções cívicas que julgo serem meu dever
concretizar.
Assim como, há mais de 50 anos,
o meu antigo professor Carlos Teixeira não se cansou de, insistentemente e em
vão, chamar a atenção do Ministério da Educação para a importância de Geologia
na sociedade do presente e o insuficiente tratamento que lhe é dado no nosso
ensino, tenho procurado, nas últimas décadas, com idêntico empenho e igualmente
em vão, continuar na mesma luta. Quero acreditar que virá um dia em que se
farão ouvir, não só as minhas, mas todas as vozes que se têm levantado neste
sentido.
O texto que se segue, retomado
de outros anteriores, é uma insistência neste mesmo propósito, agora ao estilo
de carta aberta dirigida aos nossos nossos agentes económicos e de cultura,
jornalistas e decisores políticos
Com exceções, que sempre convém
ressalvar, a Geologia não faz ainda parte das preocupações dos portugueses e,
aí, estão muitos dos nossos agentes económicos e de cultura, jornalistas e
decisores políticos. Há, pois que inverter esta situação e essa tarefa tem de
ser feita na escola, onde não me canso de denunciar a pouca importância que
sempre foi dada a esta disciplina.
Lado a lado com a Biologia, a
Oceanografia e a Climatologia, a Geologia é uma parte importante das Ciências
da Terra, que se ocupa do mundo não vivo ou inorgânico, formado não só pelas
rochas e os seus minerais, mas também, pelos testemunhos petrificados das
incontáveis formas de vida que povoaram a Terra, desde as muito antigas, com
mais de 3800 milhões de anos, às muito recentes, com apenas alguns milhares.
As rochas formam a parte rígida
do nosso planeta a que chamamos litosfera. Afloram à superfície dos continentes
e formam o substrato dos oceanos, nos quais tem lugar um dos processos mais
importantes da dinâmica global, isto é, a expansão dos seus fundos, num
alastramento que determina a hoje inegável deriva dos continentes.
Em terra e em condições
favoráveis de humidade e temperatura, a capa externa das rochas transforma-se
em solo por ação dos agentes atmosféricos, de certas bactérias, das plantas que
nele fixam as suas raízes e de alguns animais, como vermes e insetos que nele
habitam. Muita gente anda esquecida e não repara que, sem os solos, não haveria
vida sobre as terras emersas. Num esquema particularmente simplificado, basta
lembrar que se não houvesse solo, não havia plantas, sem plantas não havia
herbívoros e, sem estes, não haveria carnívoros nem esta espécie Homo dita sapiens que somos nós.
A atmosfera que atualmente nos
rodeia e nos assegura a vida é o resultado de uma interação constante e
contínua que existiu, desde há uns 2700 milhões de anos, entre organismos muito
simples, como cianobactérias,
e a cobertura gasosa do planeta. Muito diferente da atual, a atmosfera
primitiva não tinha oxigénio.
Foram esses seres
“descobridores” da clorofila (um pigmento verde contido no seu organismo) que
produziram, por fotossíntese,
o oxigénio necessário à respiração dos animais. Trata-se de um processo que
continua a ser assegurado por todas as plantas que nos rodeiam.
É por isso que dizemos que os
parques arborizados, no interior das cidades, são os seus pulmões. E é por isso
que lutamos pela defesa da Amazónia e de todas as florestas de quaisquer
latitudes, pois são elas que fornecem a parte mais importante, cerca de 21%, do
ar que respiramos.
As rochas, a água, o ar e os
seres vivos conviveram, entre si, ao longo da maior parte da história do
“Planeta Azul”. Deste modo, a biodiversidade que hoje nos rodeia é uma
consequência dessa interação durante a já referida imensidade de tempo, sendo a
espécie humana o mais recente e complexo resultado desse convívio.
A Terra no seu conjunto, os
fundos marinhos, as rochas, os minerais, os fósseis e os solos são temas de
estudo da Geologia. Mas há outros, não menos importantes, como são a erosão e a
subsequente formação das rochas sedimentares, os glaciares, os rios e os
desertos, o nascimento e a elevação das montanhas e o rasoirar das imensas
planícies, os vulcões, os sismos e a deriva dos continentes. Nestes estudos,
a Geologia não
dispensa os ensinamentos de outras ciências, com destaque para a Biologia, a
Química, a Física e alguns domínios da Matemática.
Os recursos minerais,
nomeadamente, os minérios de ferro, de alumínio, cobre, ouro e muitos outros,
bem como as fontes energéticas, sejam elas petróleo, gás natural, carvão,
geotermia ou nuclear, foram e são determinantes na História da Humanidade. As
águas subterrâneas e o conhecimento dos terrenos, com vista à construção de
barragens, pontes, estradas e outras grandes obras de engenharia, são suportes
fundamentais da civilização. Todos estes domínios e, ainda, a defesa do
ambiente natural e a preservação do património geológico e paleontológico
representam aspetos práticos da Geologia ao serviço da sociedade em
desenvolvimento sustentado, com profundas implicações económicas, sociais e
políticas, à escala local, regional e global. Acresce ainda, e é bom não
esquecer, que a Geologia, como ciência fundamental, sempre teve a maior
importância no pensamento filosófico, desde a Antiguidade aos nossos dias.
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2 Comments:
Não posso deixar de lhe agradecer mais uma lição de quem é professor na ciência, na ética e na cidadania.
Obrigado, caro Amigo Professor Galopim de Carvalho.
Se Carlos B. Esperança não se importar, assino por baixo o seu comentário.
Agradecendo-lhe também a ele por o ter feito.
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