18.1.18

O PSD e a chicana política


Por C. Barroco Esperança
A melhor forma de desviar as atenções das trapalhadas próprias é inventar ou ampliar as do adversário e provocar o máximo ruído.
A UE descobre que o governante Miguel Relvas deu dinheiros europeus à Tecnoforma, quando Passos Coelho era administrador, e que esse dinheiro foi desviado. A exigência da devolução de 6 milhões de euros foi minimizada com o facto de o ministro da SS ter sido vice-presidente da AG de uma IPSS cuja corrupção não vigiou. Não se disse quem era o presidente, nem foi referido o Conselho Fiscal a quem cabia fiscalizar as contas! Bastou atirar lama.
A revista Visão denuncia o descaminho de milhões de euros em municípios do PSD, por Marco António Costa, Luís Filipe Meneses, Agostinho Branquinho, Hermínio Loureiro, Virgílio Macedo e Valentim Loureiro, com faturas falsas, empresas de fachada, tráfico de influências, negócios simulados, contratos públicos viciados, fraudes em subsídios, manipulação de contas e iniciativas fictícias. O PSD e o CDS descobriram um ministro que pediu duas borlas para assistir com o filho a um jogo de futebol.
A ministra da Justiça diz que o longo mandato de PGR é único, opinião igual à da PGR e ao desejo do PR quando foi líder do PSD. Cria-se um ruído mediático, a revelar medo da substituição, gerando maior incómodo à titular do que ao PM, que proporá o próximo PGR ao PR. Não importa se a PGR reabriu o processo da Tecnoforma, como admitiu; se vão ser constituídos arguidos os ex-autarcas denunciados pela Visão; se o MP fez tudo o que devia nos casos dos submarinos e de Dias Loureiro; se a afirmação de desconfiança  no sistema judicial de Angola é tolerável; se há cidadãos investigados, após sucessivas fugas de informação sobre paraísos fiscais ou se são para esquecer, como a dos Panama Papers; se os vistos Gold, apesar de implicado o MAI da tutela, caem no esquecimento; se as fugas de informação de processos em segredo de Justiça foram investigadas. O ruído permanente tem servido para encobrir os escândalos da direita.
A direita deseja que, depois de Cunha Rodrigues, a atual PGR permaneça mais 6 ou 12 anos no cargo, ao contrário de Souto Moura e Pinto Monteiro. Enquanto aguardava um novo líder, o PSD quis difamar o PS e impedi-lo de governar. Nem sequer admitiu que a ministra tivesse um eventual lugar destinado à PGR que entende que o mandato é único. A direita politizou a PGR, expelindo suspeitas sobre o anterior titular, e politiza a atual ao usar a gafe anódina da MJ para perpetuar a sua escolha.
O PSD pôs a bastonária dos enfermeiros, sua dirigente, a denunciar o caos nas urgências por causa da gripe e, no seu partidarismo, em desatino, voltou aos incêndios, como se as situações anómalas pudessem ter meios humanos disponíveis em qualquer país.
Em 2017 morreram 115 pessoas em acidentes de trabalho. Não tiveram a solidariedade da comunicação social nem do PR, PSD ou CDS. A morte no trabalho, tantas vezes por precárias condições de segurança, não merece missas presidenciais, comissões de defesa dos seus interesses, almoços solidários, contas abertas para familiares.
Há mortos que se recordam com missas episcopais e imagens repetidas até à náusea, e mortos esquecidos sem uma única ave-maria, perante a indiferença de todos eles.
Espera-se que a liderança de Rui Rio leve um módico de decência ao PSD. Pelo menos, à falta de melhor, saíram derrotados os piores. E a Dr.ª Cristas vai deixar de ser a única a cantar e a dançar no palco da direita, onde andou à solta em exibições histriónicas.

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