LAGOS E A CRISE DO TURISMO
«As maiores descidas nos hotéis do Algarve, em Junho, verificaram-se em Lagos e Sagres (menos 14,1%). Mas nas zonas de Vilamoura, Quarteira e Quinta do Lago houve subidas turísticas de 7,1%».
in Jornal do Algarve, 5 de Julho de 2018
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Certo dia, em conversa com um coronel da Força Aérea, ouvi-lhe dizer uma coisa que nunca mais esquecerei: “Salvo em casos excepcionais, um avião nunca cai por UM único motivo. Há sempre VÁRIOS, simultâneos ou em cadeia, que concorrem para o desastre”.
Lembrei-me dessa afirmação a propósito dos maus resultados do turismo do concelho, pois, também nessa queda, as causas são muitas e variadas, valendo a pena distinguir três tipos de problemas:
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- Aqueles contra os quais NADA SE PODE fazer;
- Aqueles que poderão ser RESOLVIDOS — não pelos lacobrigenses, mas pelos poderes públicos;
- Aqueles em que PODEMOS INTERVIR activamente.
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No primeiro caso, a principal condicionante é a nossa situação geográfica: olhe-se para o mapa da Europa, e veja-se a que distância estão as fontes de turistas estrangeiros. Diria La Palice que “para que eles venham para cá, é preciso que não vão para outros lados”, uma verdade que nos obriga a concorrer com destinos de alta relação qualidade/preço, incluindo países que superaram, ultimamente, problemas de segurança interna que os afastavam.
Mas, em Portugal, Lagos (tal como a referida Sagres) ainda tem de competir num outro “campeonato”, nomeadamente contra Porto e Lisboa, estando, para mais, no extremo sudoeste do país. Como podemos trazer mais gente com um aeroporto a 80 km, uma A22 com portagens absurdas, uma 125 inenarrável e um comboio ao melhor nível da arqueologia industrial?
Tal como sucede com o nosso Hospital, as últimas três realidades não dependem dos lacobrigenses. São problemas estruturais (que exigem soluções de prazo variável), mas podemos pressionar os nossos políticos para que ajam em nosso favor — onde, quando e como puderem... e já não será pouco!
Também somos impotentes contra o Brexit e a desvalorização da libra, mas há muitas coisas que poderemos fazer; e é uma reflexão séria e desapaixonada acerca disso que se torna urgente... e já vai sendo tarde.
De facto, não está nas nossas mãos ir buscar os turistas e trazê-los para cá. Mas podemos fazer com que VOLTEM, nunca esquecendo que “O Homem é um animal de hábitos”, e o turista é-o, acima de tudo.
Sucede, porém, que isso obriga a ter em conta uma grande quantidade de problemas (todos bem conhecidos); mas a forma como eles são abordados entre nós nem sempre é isenta, despartidarizada e pacífica.
A juntar a isso, muita gente parece pensar e agir como se estivéssemos nos Anos 60 do século passado, quando sol, praia e bares chegavam e sobravam para manter o turismo algarvio florescente e de boa saúde.
Mas esse tempo acabou e não volta: o turista moderno, especialmente aquele com poder de compra, tornou-se muito mais exigente, até porque alternativas não lhe faltam por esse mundo fora.
Esse turista é sensível, pela negativa, a praias descaracterizadas, a ruas porcas ou esburacadas, a passeios atafulhados de carros, a paredes e monumentos grafitados, a ecopontos a transbordar de lixo (convocando gaivotas, ratos e baratas), a barulho sem horário nem regras, a indivíduos a urinar nas ruas, a árvores cortadas sem motivo, a casas-de-banho encerradas, sujas ou com horários absurdos, a ruas sem passeios dignos desse nome...
Porém, uma vez identificados os problemas resolúveis (assim haja vontade cívica e política para tal), Lagos poderá superar (ou pelo menos minorar) a crise que lhe está a bater à porta, mostrando ser um destino turístico de primeira qualidade, à altura dos desafios colocados por uma sociedade moderna e um turismo exigente.
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Carlos Medina Ribeiro - "Correio de Lagos", Agosto de 2018
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