Desejando as boas coisas uns aos outros
Por Joaquim Letria
Permitam-me que vos expresse os desejos de que tenham passado um feliz Natal, na companhia dos que mais amam, e vos deseje uma festiva entrada em 2020, ano que fique marcado pela realização dos vossos melhores desejos, pessoais e profissionais.
Nesta quadra do ano é tradicional que se fale e escreva de paz, amor, esperança e justiça. Desejamos tudo isso uns aos outros e ficamos com a consciência tranquila por mais um ano. Mas sabemos bem que, infelizmente, a realidade é outra e que pessoalmente somos incapazes de resolver estes problemas, ainda que mais pudéssemos fazer se juntos o exigíssemos daqueles a quem confiamos a governação.
Conheço a realidade de alguns países do hemisfério sul, vivi entre refugiados e deslocados, tenho gravados na minha memória, no interior do meu ser, os sorrisos das crianças sem comida, sem saúde, sem afectos, sem escola, sem saberem que não vão ter trabalho e ignorando que lhes roubaram uma vida inteira. E com esses sorrisos elas pedem-nos uma bola, um caderno, um lápis, um livro.
Nos campos de refugiados a vida é inimaginável, anos em tendas, na lama ou na poeira, na doença, ao calor e ao frio, comida das gamelas e amigos e familiares dispersos e sem destinos conhecidos. É assim nos campos do Sul da Europa, na América Latina, em África, no Médio Oriente.
Esta gente, meus queridos leitores, está, apesar de tudo, mais protegida do que todos os outros entregues a si próprios, fugitivos da guerra e da fome, prisioneiros do tráfico de seres humanos, à mercê de gente que lucra com a miséria alheia, que os mete em camiões frigoríficos, lhes aluga barcos que se viram, carregados com cem passageiros no lugar de 20, bebés entregues com amor a desconhecidos a quem se agradece que os levem para longe do inferno das guerras ou simplesmente da fome, sem ser, sequer, até um dia…
Peço-vos perdão por vos falar destas coisas num período tão feliz, esperançoso e alegre do ano para milhões de cristãos. Mas os outros, que aqui trouxe, podem não ser todos cristãos, mas também são milhões de pessoas.
Os responsáveis pelas Nações Unidas, pela União Europeia, pelos Estados Unidos e por outras nações mais e menos poderosas conhecem tudo isto em pormenor e confessam-se “muito preocupados e frustrados”. Mas pouco fazem para minorar as trágicas condições da existência destes milhões de seres humanos. As prioridades são sempre outras e dirigem-se àqueles que votam neles ou retribuem de outra forma, chegando-se ao ponto de se fazer preços e negociar acolhimentos, como acontece entre a Turquia e a Europa.
No dia em que tudo isto possa ter um fim à vista, decerto que a prazo mas com seriedade e confiança, teremos então “um feliz Natal e um ano novo muito próspero”. Até lá vamos desejando as boas coisas uns aos outros, entre amigos e familiares. Assim seja.
Publicado no "Minho Digital"
Etiquetas: JL
3 Comments:
É simpático desejarmos um Feliz Natal e um Bom Ano uns aos outros...mas, todos sabemos, que nem todos têm ou terão Boas Festas Pela parte que me toca, vivo esta altura do ano com alguma tristeza e frustração, pelos factos que o Joaquim Letria descreve com tanta clareza Todos os anos procuro não perder a esperança e acreditar, que um dia tudo isto terá um fim à vista Mas, cada ano que passa se torna mais difícil .
Perante isto, como se atrevem as Gretas que por aí andam de dedo em riste how dare you! Há tanto mundo feio e triste que nos passa ao lado só vislumbrado em notícias de ocasião
Que belo texto.
Parabéns, J. Letria.
Bom Ano. E Bons textos.
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