17.4.20

A VERGONHOSA SURPRESA DA HEMODIÁLISE DE VIANA



Por Joaquim Letria
O principal atributo dum jornal é surpreender os seus leitores, evidentemente para além de ser bem escrito, ter uma apresentação atractiva através dum grafismo apelativo, e ter um grande equilíbrio entre a opinião e a informação, susceptível de informar, formar e entreter o público a que se destina e a sociedade em geral.
Foi isto que me ensinaram, ainda muito jovem, e que eu sempre procurei fazer em todos os meios por onde passei, dos jornais às revistas, rádio e TV. Em todos os jornais que comecei, informar surpreendendo era a preocupação máxima. Foi assim com o Expresso, o semanário “O Jornal” (hoje revista Visão) e com o Tal & Qual, jornal de papel com que resisti à censura dum programa de TV, mais tarde assassinado para satisfazer o “downsizing” (como agora se diz) do grupo dirigido por analfabetos que acabou a liquidar os maiores títulos da Imprensa portuguesa, a ponto do centenário “Diário de Notícias” desmentir o seu próprio cabeçalho ao ser publicado e posto nas bancas uma única vez por semana…
As surpresas dos jornais podem ser desagradáveis e agradáveis. Geralmente são desagradáveis. Jornais há que são tão desagradáveis que se a gente os espremer deitam sangue. Jornais há, como também sabemos, que vivem disso…
O Minho Digital, dirigido por um grande jornalista que muito admiro e respeito, vive da informação séria e duma panóplia de opiniões de diversos colaboradores livres. Também o MD tem essa capacidade única dos grandes jornais de surpreender os seus leitores. Foi assim com o assassínio do prédio Coutinho, foi esta semana com a denúncia do vergonhoso escândalo da hemodiálise em Viana do Castelo.
Como é possível vermos sem nos indignar as fotos dumas instalações dignas e capazes dum serviço de saúde, sem uso há três anos e ainda por inaugurar, e olharmos para as fotos do amontoado dos pobres doentes que têm de fazer hemodiálise, sem que os façam respeitar as distâncias que as precauções a que o COVID19 obrigam e as condições em que o pessoal clínico que ali os assiste no exíguo quão perigoso espaço cedido provisória mas perigosamente pela ULSAM (Unidade Local de Saúde do Alto Minho)
São 72 doentes que a hemodiálise ali amontoa com o credo na boca, perante a impotência da NEFROSERVE (empresa concessionária que ali investiu) . Oxalá se não contaminem nem nenhum daqueles técnicos, enfermeiros e médicos se infectem. Porque se isso acontecer os culpados que poderão ser apontados a dedo são os senhores da ERS (Entidade Reguladora de Saúde), da ULSAM, da ARSN, da ACSS e da DGS. Esta última, que eu saiba, depende da senhora ministra da saúde que, ao que parece, o melhor que faz é aparecer em conferências de imprensa apesar de não se lhe reconhecer credibilidade nem muito jeito para isso.
Publicado no Minho Digital

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3 Comments:

Blogger SLGS said...

SURREAL!

17 de abril de 2020 às 18:38  
Blogger Ilha da lua said...

Impressionante!!!Alguém disse, que a pandemia mostraria muita coisa desagradável.que se encontra escondida ou disfarçada...

17 de abril de 2020 às 20:06  
Blogger José Batista said...

Chocante. Se os portugueses se chocassem. E frequente. Sem sobressaltos, nem exigências, nem atribuição de responsabilidades.
Um certo Portugal característico.

17 de abril de 2020 às 22:41  

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