7.4.20

No “Correio de Lagos” de Março 2020

O vírus e a borboleta
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«O bater de asas de uma borboleta pode provocar um tufão do outro lado do mundo» - Edward Lorenz, meteorologista (1917-2008)
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I — A metáfora refere-se a acontecimentos cuja evolução é muito dependente das condições iniciais, tornando-a imprevisível, pelo que costuma ser relacionada com a Teoria do Caos. Mas há outros fenómenos que também têm comportamentos inesperados devido às proporções que podem assumir, como bem sabia o brâmane que pediu ao rei, como recompensa por ter inventado o jogo do xadrez, apenas trigo, mas à razão de 1 grão pela primeira casa, 2 grãos pela segunda... sempre duplicando, até se atingir um valor correspondente a 2000 anos de safra!
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II — Juntas, a metáfora da borboleta e a lenda do xadrez explicam na perfeição o que está a suceder com o Covid-19 que, segundo o “The Washington Times”, fazia parte do programa da guerra biológica chinês (tendo-se escapado do laboratório onde estava muito sossegado), e que, segundo Nicolás Maduro, foi criado pelo imperialismo para atacar o povo da China. 
Claro que, entre esses dois extremos, não faltam opiniões, palpites e disparates: há quem diga que é o Juízo Final, quem jure que é uma simples gripe, e quem garanta que o problema só é mediático porque afecta os ricos. Felizmente, também há gente responsável e informada, que nos lembra que o flagelo já não é apenas de saúde, tendo consequências maiores do que as do ‘subprime’ de 2008 — mesmo nos países que NÃO TENHAM UM ÚNICO INFECTADO —, pois foi atingida “a fábrica do mundo”, onde são feitos, desde os parafusos do iPhone, até “chips” para tudo e mais alguma coisa; e é por isso que quem "relativiza" o problema faz a figura do soldado que acha que é o único a marchar com o passo certo.
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III — A propósito desse soldado, não resisto a contar-vos o que se passou comigo, numa época em que muitos computadores ainda representavam os anos apenas pelos dois últimos algarismos, colocando-se a seguinte questão: como é que eles vão distinguir o ano 2000 do de 1900? O problema, conhecido como ‘o Bug do Ano 2000’, podia ser grave, pois não faltavam computadores que, por esse mundo fora, faziam cálculos em que as datas eram o elemento mais importante, como seguros e pensões. Mas havia quem não pensasse assim, e um jornalista que eu costumava ler garantia que se tratava de «um falso problema, inventado para dar muito dinheiro a ganhar a empresas de informática».
Ora, sucedeu que eu tinha acabado de acompanhar o caso uma fábrica de laboração contínua que procedera a uma dispendiosa paragem para fazer uma simulação: todos os relógios com impacto na vida da empresa haviam sido “acertados” para a última hora de 1999, para se observar o que sucederia ao “baterem as 12 badaladas”. Pois bem; houve problemas, sim, e com gravidade suficiente para me levarem a escrever ao tal jornalista, contando-lhe o que soubera, mas ele nem se dignou responder-me, continuando a dizer o mesmo até se ultrapassar a data fatídica. E, nessa altura, como o problema tinha sido resolvido, anunciou ao mundo: «Eu bem tinha dito que era tudo mentira!».
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IV — Resumindo: Tendo a epidemia começado na China, os sectores atingidos foram, inicialmente, apenas os desse país, mas, de imediato, todos os que dependiam dos seus produtos. Como consequência, caíram as bolsas, enquanto a indústria turística também abanava. E então, quanto ao Algarve? Felizmente, e tendo em conta o carinho com que os sucessivos governos o têm tratado (como se comprova pelos casos da água, dos hospitais, da electrificação das linhas férreas, das portagens da A22, da EN 125...), podemos estar tranquilos, não só em termos sanitários, como quanto a qualquer impacto no turismo. Valha-nos isso, ao menos!

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