No "Correio de Lagos" de Jul 20
«Muito melhor conhece os lances do jogo aquele que o vê, que aquele que o joga» — D. Francisco Manuel de Melo.
UM VELHO amigo meu, com toda uma vida passada nos meios jornalísticos, costumava contar a divertida história do estagiário encarregado de acompanhar a visita ao nosso país de uma famosa actriz de cinema — tarefa essa que ele achou que podia cumprir sem levantar o rabo da cadeira, inventando, de A a Z (a partir do programa enviado para o jornal), um relato bastante credível que veio a ser publicado na Coluna Social, ornamentado com umas quantas banalidades que ele colocou na boca da ilustre visitante que, afinal... NÃO VEIO!
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CLARO que situações dessas podem acontecer na imprensa tradicional porque decorre sempre algum tempo entre a redacção dos textos e a sua chegada às mãos dos leitores.
A solução, quando o risco é manifesto, consiste em incluir uma ressalva, como eu fiz na crónica do mês passado, recorrendo à expressão «à data em que escrevo» quando referi o surto de Covid-19 que, na zona de Lisboa e Vale do Tejo se traduzia em centenas de novos casos por dia — enquanto Lagos continuava a ser poupada ao flagelo, uma realidade preciosa que havia que preservar a todo o custo.
Talvez sim, talvez não — temos de ter em conta o contexto em que o Governo decidiu intervir, com tais meios e em termos tão duros:
É que, quando tudo começou a descarrilar, já o Verão se avizinhava, pelo que não podia haver pior altura para desbaratar o capital de prestígio acumulado nos três meses anteriores — a tal «primeira parte em que fomos claramente os melhores». E, como se isso fosse pouco, ainda aparecia Lagos, uma das pérolas do nosso turismo, a oferecer à concorrência internacional (de um dia para o outro e de-mão-beijada!), nada menos do que dez dúzias de infectados, desacreditando assim o seu trunfo mais precioso: o facto de ser um destino SEGURO, motivo de legítimo orgulho lacobrigense.
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MAIS uma vez recorrendo à ressalva do «à data em que escrevo», posso dizer que não sei no que deu o tal inquérito (se é que deu em alguma coisa), e muito menos como serão as tais indemnizações (se é que vão existir). Mas àqueles que perguntam como se vai pagar o preço da REPUTAÇÃO abalada, remeto-os para a “Carta de Guia de Casados” onde, já em 1651, se podia ler a resposta:
«A reputação é espelho cristalino; qualquer toque o quebra, qualquer bafo o empana (...)» — e um pouco mais adiante: «(...) uma só gota de tinta, que caia em uma redoma de água claríssima, basta e sobeja para a tornar turva; e que para aclarar e deixar limpa uma redoma de tinta, não basta uma pipa de água clara».
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(*) – José Mota, treinador do Desportivo das Aves, queixando-se da derrota frente ao Sporting, em Dezembro de 2018.
Etiquetas: CMR, Correio de Lagos
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