22.2.21

No "Correio de Lagos" de Jan 21


Em relação
a João Cutileiro, não falta quem, melhor do que eu, diga o que tem de ser dito, pelo que me pareceu interessante uma abordagem diferente, mostrando como a sua obra é por vezes tratada na nossa cidade. Para isso, seleccionei cinco apontamentos que me parecem ser mais do que simples ‘fait-divers’, na medida em que documentam situações lamentáveis que bem poderiam ser evitadas.


I — QUANDO, em 2014, me deparei com o ‘ex-libris’ da cidade no estado que a primeira imagem mostra, fui pessoalmente à Junta de Freguesia para solicitar que se providenciasse a necessária limpeza, aproveitando para mostrar imagens de situações semelhantes, com destaque para um gigantesco ‘tag’ feito na muralha quinhentista, precisamente num dos seus panos mais visíveis.
Fui muito bem recebido e, no primeiro caso, a “desejada” limpeza do “Desejado” lá foi feita... ao fim de 40 dias. No entanto, como os ‘artistas do gatafunho’ não desarmam, em 2016 houve segunda vandalização, e ainda uma terceira em 2018 (cujas imagens aqui se omitem por falta de espaço), levando-me até a pensar se não se estaria perante algo como uma intervenção de arte BIENAL...
Quanto ao gatafunho da muralha, ele desapareceu também, embora dessa vez graças à acção do sol e da chuva — mas ambos os casos deram origem a uma proveitosa troca de ‘e-mails’ com a “Associação Socioprofissional dos Guardas-nocturnos de Lagos”, que me elucidou acerca da legislação feita para punir os autores dos grafitos selvagens, onde estão previstas coimas que — imagine-se! — podem ir até aos 25 mil euros.

II — OUTRA peça emblemática é o conhecido torso feminino que dialoga connosco deitado no pavimento da Rua da Porta de Portugal. Ora, sendo esta disposição uma opção do artista, facilmente se compreende que sirva aos cães para demarcarem o seu território, ou até de assento para passantes fatigados. Resta saber se a sua utilização como apoio de gradeamentos de obras (de preferência sinalizadas com o dístico “Lagos dos Descobrimentos”, como é o caso que a imagem mostra) também arrancaria um sorriso ao escultor. É possível que sim...

III — QUANTO à imagem do jovem a esvaziar a bexiga no painel “Alcácer Quibir”, a cena pode ser revoltante, mas nada tem de surpreendente pois, ali a dois passos, o recanto por baixo da Janela de D. Sebastião funciona há anos como WC público — com urina, fezes, grafitos e lixo. Aliás, já é proverbial a tolerância dos poderes públicos lacobrigenses para com tudo o que de degradante se passa nessa zona, pelo que é impossível, para quem estima a cidade, andar por aqueles lados sem ficar indignado — um assunto que, pela sua gravidade, não pode deixar de ser debatido nas eleições autárquicas que terão lugar ainda este ano.

IV — A FOTO seguinte mostra o sentido de oportunidade de alguém que aproveitou a imagem do painel intitulado “Lagos e o Mar” para colocar a personagem a adorar um anemómetro — aparelho que veio a ser retirado, porventura no seguimento de um “apontamento” publicado neste jornal.

V — JÁ AGORA, e vá lá saber-se porquê!, esse mesmo painel de MÁRMORES aparece referido, na placa de inauguração, como sendo de AZULEJOS — um mistério que nem o arquitecto coordenador do projecto me conseguiu esclarecer, no decorrer de uma proveitosa conversa que tivemos acerca de todo aquele espaço. Nesse seguimento, também se mostrou esperançado em que venha ali a ser colocada uma réplica da outra placa (que, na senda do que sucedeu ao velho coreto, há muito sumiu sem deixar rasto), onde constavam nada menos do que os nomes do Projectista, do Empreiteiro Geral e da Fiscalização! Claro que a pretensão é mais do que legítima, mas, se fosse comigo, aproveitava o murete onde ela esteve para esperar sentado.

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