A situação pós pandemia – as dúvidas e as dívidas
Por C. B. Esperança
Não restam dúvidas sobre a necessidade de aumentar os vencimentos mais baixos, quer na função pública, quer no sector privado, mas tenho fundadas dúvidas quanto à sua possibilidade, com a descida de 5,4% do PIB, e as dificuldades do Estado e de muitas empresas.
As dúvidas tornam-se ainda maiores quanto aos vencimentos e às pensões de montantes elevados, pensando que o OE só consegue fazer face aos encargos, aumentados com as necessárias admissões de milhares de trabalhadores da saúde, com mais endividamento que deixamos às gerações seguintes.
É fácil dizer que os trabalhadores têm razão, que as pensões se degradaram, e não ter em conta que qualquer aumento se faz à custa da dívida pública é suicídio e, decerto, uma injustiça para milhares de desempregados, que irão aumentar, exigindo solidariedade.
Aliás, as alterações climáticas deviam fazer-nos ponderar se podemos confiar na retoma que nos conduz ao aumento do consumo de recursos em vez de procurar viver de acordo com o que temos e melhor distribuído. O PIB, como as árvores, não cresce até ao céu.
É hoje obscena a diferença entre os salários mais baixos e os mais altos, e intoleráveis os valores do salário mínimo sem que seja, pelo menos na função pública, travado o salário máximo.
Quando melhorar o estado sanitário do país, todos o esperamos o mais depressa possível, teremos trabalhadores enfurecidos a reivindicar o que não há; quem tem emprego, a exigir o que falta aos desempregados; quem pode, a reclamar o que não deve.
Julguei que a dura provação da pandemia gerasse generosidade, mas o egoísmo não abrandou, a solidariedade não emergiu, nem desapareceu quem acirra a gula à custa dos que não comem.
Esta reflexão parece uma heresia. É a vida!
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