21.7.21

No “Correio de Lagos” de Junho de 2021


QUANDO
 comecei a alinhavar esta crónica, andavam as gentes de Lisboa e arredores a pensar na Covid que lhes iria cair em cima por conta da bagunça em que descambaram os festejos do Sporting; e ainda o pó não tinha assentado, já estávamos a apanhar com outra, desta feita no Porto, a crédito de uns quantos súbditos de Sua Majestade que, viajando numa fantasiosa “bolha”, desembarcaram num país onde o futebol é quem manda, e as leis-da-treta são “fruta de todo o ano”. 

Tendo-nos “posto a jeito”, seguiu-se aquilo que se sabe (a saída de Portugal da lista verde da Grã-Bretanha — a coberto de motivos ou pretextos), e agora aqui estamos nós (portugueses em geral e algarvios em particular) a deitar contas à vida, em busca de bodes expiatórios, mas sem grande vontade de pensar a LONGO prazo, e muito menos de escutar avisos como os de Andrew Grove que, no seu livro «Só os Paranóicos Sobrevivem», alertou, já em 1996, para os sérios riscos que corre quem aposta demasiadamente num determinado produto — e, naquilo que nos toca, não é preciso dizer mais nada.

 

ENTRETANTO, e devido a uma daquelas coincidências que dão que pensar, dei por mim a ler a crónica «Cima do Douro», em que Ramalho Ortigão, em 1885, nos dava conta da arrogância insultuosa com que os ingleses do Porto tratavam os portugueses quando chegava a época de comprar as uvas para as suas caves de Gaia.

Aliás, e duas décadas antes, já Júlio Dinis, em «Uma Família Inglesa», nos falava (embora nos termos suaves que caracterizam toda a sua obra) da sobranceria com que os ingleses da mesma cidade olhavam para nós.

De notar que ambos os autores eram portuenses de gema, pelo que sabiam bem do que falavam.

E perdoe-se-me aqui um apontamento pessoal, pois foi com um sorriso que fiquei a saber que Carlos, o herói da tal “Família Inglesa”, além de meu homónimo, nasceu e cresceu na mesma freguesia que eu, sendo boa parte da história passada onde dei os primeiros passos neste mundo.

 

NOTA FINAL: Um saudoso primo meu costumava dizer que “O Homem só aprende por catástrofes” — mas o certo é que, por cá, só raramente isso sucede. Da mesma forma, já houve quem garantisse, meio a brincar, meio a sério, que “Os portugueses são muito bons a resolver os problemas que eles próprios criam”, numa conclusão à margem do Relatório Porter, no qual, em 1994, se analisavam as nossas vantagens competitivas num mundo globalizado. No entanto, como não li o documento todo, não sei se, entre essas duvidosas vantagens competitivas, constava a nossa proverbial subserviência para com o turista estrangeiro. De qualquer forma, não preciso de andar muito para constatar que não falta quem ache que sim... e aja em conformidade.


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2 Comments:

Blogger Fernando Ribeiro said...

Conheci há muitos anos um dos tais ingleses do Porto, um senhor idoso que foi fundador do clube de futebol Boavista e era o seu sócio n.º 2 (o sócio n.º 1 do Boavista também era inglês, amigalhaço dele). Pois esse inglês não era arrogante, mas reconhecia a arrogância dos seus compatriotas, que ele verberava. Contou-me ele uma vez que conhecia "ingleses" que já iam na sétima geração nascida no Porto, que tinham por isso a nacionalidade portuguesa, mas que faziam questão em NÃO SABER falar português!

21 de julho de 2021 às 20:04  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Aqui, no Algarve, a comunidade inglesa também começou por ser muito fechada, chegando a haver um conflito quase-diplomático (nos "anos 60") por terem hasteado a sua bandeira na Praia da Luz!

22 de julho de 2021 às 16:53  

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