PAREM O MUNDO QUE QUERO SAIR!
Por Joaquim Letria
Aqui há uns dias, eu e o José Luís Manso Preto trocámos amarguras da vida e juro que ainda hoje não sei quem de nós mais razões de queixas tem.
Sei, sim, que perante tanta gente que por aí se lamuria, inclusivamente nas televisões, que todos os dias fazem chorar as pedras das calçadas, nós dois somos homens felizes e divertidos, capazes de rirmos das desgraças que nos incomodam.
E foi nesse desfiar dos nossos rosários e na acumulação do que não gostamos que prometemos um ao outro não ave marias nem padres nossos pelas nossas almas, mas sim nos entregarmos, daqui para a frente, a comer do bom e do bonito, a beber do melhor, a rirmos a bandeiras despregadas dos nossos inimigos e dos descarados que sem vergonha na cara infernizam este nosso querido povo e a convivermos mais com os nossos amigos e amigas para quem nunca temos o tempo merecido que chegue.
Foi uma receita fácil. Despedimo-nos felizes e julgo que ainda hoje ele está de acordo com a prescrição e segue à risca, tal como eu, aquilo que havíamos combinado para nosso bem e para o daqueles que nos rodeiam.
Digamos que aquilo que as cidades, os países, os continentes, o mundo no seu conjunto nos oferecem não é bom e raramente agradável, pelo que, desta vez, a solução, julgamos nós, não é como nas nossas juventudes, quando saíamos a espadeirar para mudar o mundo, mas sim agarrarmos naquilo e naqueles com quem hoje estamos bem e criarmos pequenos círculos de amizade e de prazer onde ficamos bem connosco e com os nossos. Os outros, os de fora, que façam o favor de terem paciência.
A vida está perigosa e desagradável, tendo-se tornado um tempo breve e mal frequentado. Portanto, sem nos armarmos em bichos de seda, criemos e habitemos os nossos casulos e demos vida aos nossos sonhos difíceis de realizar.
O mundo está tão feio e o sofrimento sem redenção que por ele se espalha é tão horroroso e avassalador que me faz lembrar uma daquelas grandes frases que ficam para sempre e que, há uns anos, o cartoonista argentino Quino pôs na boca da azougada Mafalda:
— Parem o Mundo que quero saír!
Publicado no Minho Digital
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