6.2.22

No “Correio de Lagos” de Janeiro de 2022


 I — QUANDO eu nasci, o meu tio Emílio teria uns 35 anos — e digo “teria” porque morreu com seis anos de idade, vítima de TÉTANO. E o pior é que foi uma morte absurda pois, embora nessa altura ainda não houvesse vacina para essa doença (só descoberta uns 10 anos depois), já havia tratamento, só que ele foi parar às mãos de um indivíduo que, numa atitude que vemos repetida um século depois a propósito da COVID-19, desvalorizou o sucedido, mandando-o embora — talvez com um penso de tintura-de-iodo e umas palavras do género de “isso não é nada”.

Mas, na minha família, não foi apenas o Emilinho que não beneficiou da descoberta de uma vacina que, para ele, veio tarde demais: sucedeu o mesmo com uma tia nossa (para quem a BCG, contra a TUBERCULOSE, não veio a tempo de lhe salvar a vida), e com um primo, esse ainda vivo, para quem a vacina contra a POLIOMIELITE não chegou a horas de impedir que tenha uma perna praticamente morta desde a mais tenra infância.

 

II — EM 1998, tendo eu de ir em trabalho à República do Congo, fui informado de que teria de ir já vacinado contra a FEBRE AMARELA, cujo certificado apresentaria à chegada. Então e quem fosse “anti-vacinas”? — pensaria eu, se isso fosse agora. Bem... para esses havia o avião de regresso, a menos que se vacinassem no próprio aeroporto, possibilidade que nem sequer sei se existia.

 

III — EM 2013, estando eu a passar uns dias nos arredores de Sintra, apareceu-me à porta de casa um simpático cão, com toda a aparência de ter fugido ou sido abandonado, conclusão que tirei quando vi que, a fazer as vezes de coleira, tinha um arame retorcido e ferrugento — devia ser um cão-pastor, porque era frequente aparecerem por ali rebanhos de cabras, mas não se via nenhum nas proximidades.

E preparava-me eu para me vir embora quando o bicho, aproveitando um momento de distracção, saltou para dentro do carro, onde se deitou, mostrando bem o que pretendia! Mas o pior veio depois porque, quando tentei pô-lo fora, me mordeu uma mão, fazendo uma enorme ferida e trazendo-me à lembrança imagens de pessoas atacadas por cães raivosos, que acabaram por morrer de uma morte atroz. Então, em pânico, corri para o veterinário mais próximo, onde, apesar de confirmarem que o cão não tinha ‘chip’, me sossegaram, afiançando-me que a RAIVA era uma doença já erradicada em Portugal devido à vacinação obrigatória que já existe há muitos anos.

 

IV — MAS ESSES são apenas alguns casos que me vêm à mente quando, hoje, os “filhos mimados de uma sociedade de abundância” desvalorizam doenças e vacinas, pelo menos até ao dia em que o mal lhes calha a eles — nem que seja sob a forma de um prego ferrugento, levando-os a correr para um posto médico, onde lhes será perguntado se a vacina do tétano (que certamente tomaram) ainda está na validade.

Ora, para ilustrar estas pequenas notas autobiográficas, hesitei entre este cartune e um outro, que mostra um “náufrago do deserto” arrastando-se, morto de sede, por entre as dunas do Sahara, e que vê, ao longe, um oásis com água fresca. Sentindo-se salvo, ganha novas forças, mas de súbito hesita, e a legenda explica porquê: é que ele interroga-se, apreensivo, se lá haverá “água com gás”! 

Esses desenhos parodiam a situação absurda que bem conhecemos: num mundo com sete mil milhões de habitantes, onde porventura a maioria não tem (nem terá em tempo útil) acesso a qualquer vacina, há quem se dê ao luxo de desprezar a que a sociedade lhe oferece gratuitamente, ou faça finca-pé na escolha de um determinado fabricante — como no caso do indivíduo que prefere morrer de sede a beber água que não seja a da sua preferência.

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1 Comments:

Blogger opjj said...

É PRECISO É TER FÉ. Disse bem " vacinas" O problema é que não são vacinas, são tóxicos que vai inoculando sempre que os anti-corpos baixarem. NÃO é por acaso que vacinados com 3 doses, já há quem tenha sido infectado 3 vezes. E na vanguarda vai Israel onde há infectados graves já com 4 doses.
NÃO sou negacionista.
Cumprimentos.

6 de fevereiro de 2022 às 17:42  

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