6.5.22

A DESGRAÇA DE VOLTAIRE

Por Joaquim Letria

Foi Voltaire quem disse que, para o escritor, a maior desgraça era ter de se confrontar com o julgamento dos imbecis.

Escreveu ele que isso o afectava mais do que ser invejado pelos colegas, ser vítima das intrigas, ser desprezado pelos poderosos.

Pior ainda o fazia sentir esse julgamento quando partia de alguém em que o fanatismo se unia à estupidez.

Creio que este juízo se deve ao facto de no tempo de Voltaire nem todos os estúpidos eram fanáticos nem todos os fanáticos eram estúpidos.

Hoje, ambos os predicados são indissociáveis: não há fanático que não seja estúpido nem estúpido que não seja fanático.

No que eu não acredito é na infelicidade de Voltaire diante das opiniões dos imbecis, dos fanáticos e dos fanáticos imbecis.

É evidente que seria preferível não existirem semelhantes seres. Mas já que existem penso que Voltaire não seria excepção à regra que se aplica a todos que se expõem ao público.

Custa-me acreditar que ele resistisse ao prazer de extorquir aos imbecis fanáticos e aos fanáticos imbecis o prazer libertado pela raiva destes e pelas frustrações daqueles que faziam o doce favor de o detestarem.

Oh Voltaire, meu amigo, não me digas que isso não te dava um gozo especial. Tenho a certeza que dava! Pelo menos eu por mim falo.

Publicado no Minho Digital

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