5.5.22

A União Europeia (UE) está a repetir os anos trinta do século XX?

Por C. B. Esperança

Quando Jörg Haider, governador da Caríntia, foi indicado para chanceler, em 2000, a UE impôs o cancelamento da nomeação do líder do Partido da Liberdade da Áustria (FPÖ), de extrema-direita. Era então António Guterres presidente do Conselho da União Europeia.

O político que elogiou a política de emprego do Terceiro Reich, nacionalista, xenófobo e homofóbico, morreria com uma taxa de alcoolemia de 1,8 gramas por litro de sangue (a conduzir a 142 km/h o carro oficial, onde o limite máximo era de 70 km), no regresso de um bar gay, deixando inconsolável o sucessor, como líder da Aliança para o Futuro da Áustria (BZÖ), com quem mantinha uma oculta e tórrida relação amorosa.

Vinte e dois anos depois, a Hungria e a Polónia têm líderes de extrema-direita e apenas têm de conformar-se com as eleições nos prazos previstos. Na Hungria, há um mês, o partido nacionalista de Viktor Orbán renovou a maioria, pela quarta vez consecutiva, de forma esmagadora, para mais um mandato autoritário e antieuropeu. A UE perde força, para se indignar e impedi-los de governar.

Em 2002, quando Jean-Marie le Pen chegou à segunda volta das eleições presidenciais, a revolta desceu às ruas, em protestos, na França e em toda a Europa, contra o perigo do “fascismo”, que menos de 20% dos eleitores sufragaram. Quinze anos depois, a filha duplica o eleitorado e aproximou-se de 40% para agora, há uma semana ter obtido mais de 41% dos votos, igualmente contra o mesmo adversário, em eleições onde a extrema-direita enfrentou o resto do espetro partidário, com votos da extrema-esquerda a caírem diretamente na extrema-direita. 

Em vinte e dois anos o intolerável tornou-se banal e o escândalo respeitável. Os países com regimes autoritários superaram o número das democracias mundiais. Sete décadas depois da derrota do nazismo, esquecido o horror, o neoliberalismo conduziu os países para um beco onde a direita e a extrema-direita ameaçam ser as escolhas únicas.

Pior do que a pobreza das opções dos franceses são as advertências que chegam. O nazi / fascismo parece ser uma questão apenas adiada na sua dramática ressurreição.

Os países que viveram sob o regime soviético são hoje um alfobre da extrema-direita, Rússia incluída, onde os nacionalismos medram, as liberdades regridem e os direitos humanos são postos em causa.

Os países mais populosos do mudo, a China e a Índia, têm respetivamente uma ditadura violenta e um nacionalismo musculado e agressivo. 

Do Reino Unido aos EUA, da Turquia à Arábia Saudita, da Síria à Líbia, das teocracias islâmicas e dos nacionalismos étnicos e religiosos, que recrudescem em todo o mundo, já eram enormes as ameaças que perturbavam a UE. Faltava a invasão da Ucrânia para a arrastar para um conflito cujas consequências ameaçam dividi-la e envolver na guerra o resto do Mundo numa orgia de horror e sofrimento sem paralelo nas nossas vidas.

É a própria sobrevivência da vida na Terra que está em perigo enquanto os pregadores da guerra e os vendedores de armamento não deixam ouvir apelos à paz. 

O grito mais subversivo e incómodo passou a ser Viva a Paz!

Malditas guerras!

Ponte Europa Sorumbático

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