17.3.23

No "Correio de Lagos" de Fev 23


QUEM acompanha as redes sociais, sabe que quando alguém, no exercício do seu legítimo direito de opinião, nelas manifesta desagrado por alguma situação envolvendo entidades públicas ou privadas, quase de certeza que é mimoseado com comentários agressivos por parte de indivíduos que “tomam as dores” dos criticados. No entanto, de entre esses “medíocres que estão sempre satisfeitos” (como lhes chamava Lawrence Peter — o autor do famoso “Princípio”), há alguns que disfarçam o seu desagrado com a pergunta “Porque é que você vem para aqui reclamar, e não o faz no sítio certo?”— questão que não merece resposta, porque o que está por trás é o incómodo pelo facto de a situação ser exposta publicamente, em vez de ficar sepultada no “sítio certo” — que, para essa gente, seria o cesto de papéis de um qualquer burocrata de serviço. Mas se, mesmo assim, eu tivesse de responder, diria que, no decurso da minha já longa existência, também reclamei muitas vezes nos “sítios certos”, mas também aprendi que não faltam “sítios” desses em que o que existe de “certo” são a arrogância, o desleixo e a incompetência — e julgo não estar a ser muito injusto se disser que é esse o caso que hoje aqui partilho com os leitores:

 

NO ANO passado, este jornal (na secção “Buracos & Companhia”), fez eco, por duas vezes, de alertas de pessoas que denunciavam no Facebook (com abundância de imagens) a situação que aqui se documenta, tendo publicado fotos de 29 de Maio e de 7 de Novembro, pelo que os mais ingénuos esperaram que alguma coisa fosse feita no sentido de atalhar ao que ali se passava. Ingénuos, sim, pois no dia 6 de Dezembro fui até lá, mas apenas pude confirmar que tudo se mantinha — se não na mesma, ainda pior.

Tirei novas fotos, e, resolvido dessa vez a seguir o tal princípio de “reclamar para o sítio certo”, telefonei (mesmo dali) para o número indicado na placa que se vê à entrada, mas sucedeu que o engenheiro (a quem o funcionário que me atendeu quis passar a chamada) estava indisponível. Deixei então recado com o meu nome e número de telemóvel, pedindo expressamente que o colega me ligasse... e esperei. Enquanto continuava a esperar, e para tornar mais proveitosa a conversa que eu supunha vir a ter com alguém responsável, passei a escrito o que lhe pretendia dizer, e enviei, para os dois endereços electrónicos indicados na tal placa, um sucinto texto, acompanhado de fotos actuais e dos recortes do “Correio de Lagos” onde o assunto era referido.

A primeira surpresa desagradável veio de imediato, com a devolução de um dos ‘e-mails’, indicando que “não foi possível encontrar o endereço”.

A segunda surpresa talvez não tenha sido bem uma surpresa: é que decorreram mais de dois meses, está tudo na mesma (*), e ninguém se digna responder-me.

 

EMBORA todo este arrazoado possa sempre vir a servir para memória futura se um dia ali houver uma desgraça, não tenciono perder mais tempo com o assunto — encaremo-la apenas como um desabafo, uma manifestação de tristeza pela proverbial apatia da sociedade lacobrigense, mesmo perante uma situação como esta. 

 

NORMALMENTE, procuro terminar estas crónicas com uma nota ligeira, até de pretenso humor. Mas confesso que desta vez não consegui... o que julgo ser perdoável.

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(*) - À data em que escrevo (9 de Fevereiro de 2023), pude constatar que a foto que aqui fica (uma das várias que enviei para a Docapesca) está perfeitamente actualizada; infelizmente, ela não mostra tudo, pois, além da “passagem” que se vê em primeiro plano, há várias outras (mais à frente), mas onde não me aventurei a ir — o que penso que também é perdoável...

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No “Correio de Lagos” de Fevereiro de 2023

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