UMA CURIOSIDADE EM QUE SE FALA DE CRISTALOGRAFIA.
Por A. M. Galopim de Carvalho
Hoje, ao falar de minerais, praticamente, já ninguém fala em sistemas cristalográficos (cúbico, tetragonal, monoclínico e outros), classes de simetria, eixos de rotação, planos de simetria, etc. Uma matéria linda que, quando mal ensinada, foi detestada pelos alunos que tiveram de a “empinar” para passarem no exame. Era a chamada Cristalografia Morfológica, disciplina de pendor geométrico e matemático que, no século XIX e primeira metade do XX, esteve na base de toda a investigação em Mineralogia. A recente Cristalografia Estrutural, possibilitada pela investigação com base na utilização dos raios X, é hoje um capítulo da Física do Estado Sólido e arrumou a dita Morfológica na “prateleira do esquecimento”.
Em termos da velha Cristalografia Morfológica, o quartzo α (alfa) representa a classe trapezoédrica trigonal, caracterizada pela existência de um eixo de rotação de grau 3 e de três de grau 2, situados no plano perpendicular ao eixo ternário, fazendo entre si ângulos de 120º. Nestas condições, não tem centro nem planos de simetria. O quartzo β (beta) pertence à classe trapezoédrica hexagonal, com um eixo de rotação de grau 6 e três eixos de grau 2, situados no plano perpendicular ao dito eixo, fazendo, entre si, ângulos de 60º. À semelhança do quartzo α , a conjugação destes operadores implica a ausência de centro de simetria. Hoje fala-se das respectivas estruturas íntimas, ou seja, do arrumo dos iões nas respectivas redes ditas cristalinas.
Quando se fala de quartzo, sem mais qualificativos, referimo-nos ao quartzo α (alfa) ou de baixa temperatura, presente e abundante em todos os grandes grupos de rochas da crosta, das ígneas ou magmáticas às metamórficas, passando pelas sedimentares e, ainda, pela imensa maioria dos corpos filonianos pegmatíticos e hidrotermais.
Por tradição, o conceito de cristal implicava o carácter poliédrico (facetado) do sólido, fosse ele uma substância mineral ou orgânica, natural ou produzida artificialmente. Tal concepção foi abandonada a partir do momento em que (com a descoberta dos raios X) se tornou conhecida a estrutura íntima, à escala atómica, dos corpos no estado sólido. Assim, cristal é hoje entendido como uma porção uniforme de matéria cristalina, isto é, matéria caracterizada por uma disposição geométrica dos seus átomos, segundo redes tridimensionais, próprias de cada espécie. Um tal arranjo geométrico interno deste tipo é posto em evidência, entre outras manifestações, pelas faces do cristal pela existência e orientação dos planos de clivagem e das maclas.
Mas nem sempre a matéria cristalina se manifesta com a configuração de um cristal, no sentido vulgar do termo, isto é, no de um corpo poliédrico, total ou parcialmente limitado por faces planas. Um grão de quartzo, no seio do granito ou solto, como grão de areia da praia, não tem forma poliédrica, mas é matéria cristalina.
Vem isto a propósito da fotografia, do lado direito, inferior, da imagem, onde são visíveis pequenos triângulos.
Fotomicrografia obtida ao microscópio dito de varrimento (“scan”) põe em evidência a classe trigonal do quartzo alfa ou de baixa temperatura e mostra que mesmo um simples grão de areia, (arrancado por erosão de uma qualquer rocha (não vulcânica), é matéria cristalina. É, digamos assim, parte de um cristal que não teve condições para se manifestar. como foi o caso exemplificado na outra fotografia.
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