9.2.05

João Grande e João Pequeno

(A primeira parte deste texto foi publicada no Diário Digital em 1 de Setembro de 2004. Infelizmente, como no fim se verá , está bastante actual).

1 - TODA A GENTE já ouviu anedotas do «31», o soldado tosco e ingénuo a quem sucede tudo e mais alguma coisa. Pois eu, quando fiz a tropa, vi-me presenteado, precisamente, com esse número - e de vez em quando lá aparecia algum camarada a brincar amigavelmente com isso.

Mais tarde, em Macau, houve um chinês que perguntou o meu nome e o quis anotar. Ora, quando ele soube que «ribeiro» significava «rio pequeno», foi assim que passou a referir-se a mim nos seus escritos - em mandarim ou em cantonês, nunca o vim a saber.

EMBORA nesses dois casos não tenha havido maldade, lembrei-me deles a propósito do facto de as pessoas terem direito a serem tratadas pelo seu nome.

No caso da Casa Pia, por exemplo, a comunicação social refere-se aos arguidos (e muito bem) pelo seu nome próprio e apelido. Mas faz uma excepção: Carlos Silvino é, quase sempre, apenas referido por Bibi - o que está mal, a menos que se passem a referir todos outros pelas alcunhas que possivelmente também têm.

Da mesma forma quando, em Portugal (especialmente na luta política), alguém quer atacar outra pessoa, recorre com frequência a brincadeiras e trocadilhos fáceis (e por vezes de mau-gosto), pois são inúmeros os que a tal se prestam: Durão, Portas, Ferro, Estrela, Jardim, Preto...

*

TUDO ISTO me veio à mente a propósito do facto de o Dr. João Soares, um dia destes, se ter referido ao Dr. Santana Lopes como «o senhor Lopes».

Claro que o actual Primeiro Ministro é um «senhor» que se chama «Lopes» mas, como é evidente, não houve qualquer ingenuidade nessa atitude - um acinte inconsequente com laivos de garotice que diz muito mais sobre quem a ele recorre do que sobre o seu alvo.
*
2 - Ontem, e a propósito de uma notícia do PÚBLICO que se veio a revelar pouco fundamentada, ouvimos um outro João (o Dr. Jardim) a referir-se ao Prof. Cavaco Silva como o «Sr. Cavaco Silva», o «Sr. Cavaco» e o «Sr. Silva», por vezes nas mesmas frases em que, dobrando um pouco mais a língua, falava do «Dr. Pedro Santana Lopes».

Por acaso tenho um livro com o título «Então agora é assim, ó Alberto?» - mas é acerca da Teoria da Relatividade...

8 Comments:

Blogger Carlos Esperança said...

E eu que ouvi o sr. Alberto a referir-se ao Sr. Silva! Era um merceeiro a falar de outro ou um carroceiro a referir-se ao antigo primeiro-ministro?

9 de fevereiro de 2005 às 13:57  
Anonymous Anónimo said...

Pois...
Trata-se de um gajo que não esconde a sua falta-de-chá a referir-se a outro que procura esconder esse mesmo problema...

9 de fevereiro de 2005 às 16:51  
Anonymous Anónimo said...

Seria interessante discutir-se porque é que em Portugal há

Marias
Senhoras Marias
Donas Marias
e
Senhoras Donas Marias...

9 de fevereiro de 2005 às 19:24  
Anonymous Anónimo said...

O comportamento de Alberto João Jardim é deplorável.

O problema dele e da Madeira, ou melhor, o nosso problema, chama-se autonomia. Quando, na organização político-administrativa de um país, se aceita a existência de regiões autónomas enfraquece-se sempre o poder central.

Aqueles que conquistam a autonomia administrativa têm sempre tendência para reivindicar mais atenção e mais dinheiro do poder central. O líder da região que mostrar mais eficácia nesse permanente espremer da "teta" garantirá o voto dos eleitores. Ainda que seja um carroceiro (com as minhas desculpas aos carroceiros) como Alberto João Jardim. Aos madeirenses o que é que isso interessa, se ele consegue sacar dinheiro ao “contnente”? Todos unidos em torno dele, somos forçados a reconhecer, é uma atitude racional dos madeirenses. Se a Madeira fosse independente, nada se passaria desta maneira. O Alberto João Jardim não durava mais de um ou dois mandatos.

Embora de uma forma mais atenuada, este fenómeno já se observa nas nossos municípios, cujos presidentes não param de reivindicar mais dinheiro do governo central. E nós sabemos a forma como eles o gastam ...

O presidente da Associação Nacional dos Municípios Portugueses, seja ele do PS ou do PSD, aparece permanentemente na comunicação social a exigir mais transferências do governo central. Ainda que as receitas aumentem, como se verificou recentemente com o aumento de cerca de 20% da contribuição autárquica, eles pedem sempre mais. O actual presidente da ANMP, o Sr. Fernando Ruas, veio reconhecer publicamente esta agradável surpresa, mas isso não o impediu de, entretanto, continuar a pedir mais dinheiro ao ministro das Finanças.

É por razões desta ordem que a regionalização do país, como queria o PS, seria uma tremenda asneira.

Assinado : SOKAL

9 de fevereiro de 2005 às 19:52  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Totalmente de acordo, meu caro "SOKAL"!

9 de fevereiro de 2005 às 19:58  
Anonymous Anónimo said...

Ainda não perdi a esperança de que, algures na Quinta Vigia, exista uma cadeira carunchosa...

José Santos

10 de fevereiro de 2005 às 12:07  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Este comentário foi removido por um gestor do blogue.

10 de fevereiro de 2005 às 17:09  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

«DN» de 10 de Fevereiro de 2005

Formas de tratamento

Um dia destes, o Dr. João Soares, referindo-se ao Dr. Santana Lopes, tratou-o por «Sr. Lopes».

Claro que o actual Primeiro Ministro é um «senhor que se chama Lopes» mas, como é evidente, não houve qualquer ingenuidade nessa atitude - um acinte inconsequente com laivos de garotice que diz muito mais sobre quem a ele recorre do que sobre o seu alvo.

Ontem, ouvimos o Dr. Alberto João Jardim a referir-se ao Prof. Cavaco Silva como o «Sr. Cavaco Silva», o «Sr. Cavaco» e o «Sr. Silva», nas mesmas frases em que, dobrando um pouco mais a língua, falava do «Dr. Pedro Santana Lopes».

Por acaso tenho para aí um livro com o título «Então agora é assim, ó Alberto?» - mas é sobre a Teoria da Relatividade e “um outro” Alberto...

«DN» de 10 de Fevereiro de 2005

11 de fevereiro de 2005 às 08:28  

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