11.2.05

Língua Traiçoeira - 7

Solução salomónica

Decerto às turras com as dúvidas acerca dos «porque» e dos «por que», a SAAB resolveu o problema assim:

("Clicar" para ver)

É caso para dizer: «Quem SAAB, SAAB!»

NOTA 1: Este anúncio aparece como banner nas páginas do Diário de Notícias (www.dn.pt), Jornal de Notícias (www.jn.pt), Diário Digital (www.diariodigital.pt), TSF (www.tsf.pt), etc.

NOTA 2: O correcto, em ambos os casos, é «porque» (uma só palavra)

4 Comments:

Blogger António Viriato said...

E se se subentender por que razão ? Então poderá ser separado !

Gostei da crónica do Você e respectivos comentários.

Um pouco de humor e de ironia ajudam-nos a enfrentar tanta modernidade imbecilizante, passe o termo, que deve ser neologismo, mas suponho que bem formado, conforme com as normas do nosso antigo idioma, aquele que se usou aí até aos anos 70. Depois, entrou em derrapagem, abardinou-se e hoje tá bué da fixe, ó meus. Desgramaticou-se, libertou-se das amarras de antanho e é agora servido fresco que nem um alho, por jovens desempenados, no mínimo licenciados em qualquer futilidade, quando não pós-graduados ou mesmo doutorados, cum camandro ! Só alguns cotas apanhados do reumático é que vêm com essas tangas da língua culta e outras bezanas que não interessam a ninguém, porque ninguém curte literatices, meus. Nem a maior parte dos Profes da malta lá nas Faculdades, meus. Só algns gimbras que ainda por lá dormitam é que dão importância a essas tretas. Vivó português libertado, sin gramática, por supuesto, pero sí, es muy fácil. Aprende-se esta nova modalidade de português nas telenovelas giraças da TVI, nas tertúlias dos estudantes universitários e demais centros intelectuais pós-modernos. As telenovelas da SIC também dão uma ajudinha num sotaque açucarado : Você não tá a fim de falar com teu pai ? Depopis não vai me dizer que eu não te avisei, tá ?

Que nos resta senão rir desta destrambelhada tragicomédia em que transformou a nossa vida no Portugal da excelência dos Gestores de sucesso, a caminho de inventaram a economia sem indústria, sem agricultura, sem pescas, sem operários e quase sem trabalhadores ?

Desculpem a extensão do desaustinado comentário.

12 de fevereiro de 2005 às 01:45  
Anonymous Anónimo said...

O António Viriato que me desculpe, mas eu não estou totalmente de acordo.

Compreendo a ideia de que, na pergunta formulada, se possa subentender a omissão do substantivo “razão”, ou “motivo”, por forma a considerar o “por” uma preposição e o “que” um pronome relativo.

Todavia, considero que existe uma razão mais determinante para juntar as duas palavras em “porque”, conjunção causal, em ambas as frases, como propõe o Medina Ribeiro.

É que as frases poderiam ser escritas da seguinte forma :
“O poder não pode estar nas mãos de todos porquê?”
“Não experimentá-lo porquê?"

Ora, nestas condições, o “porque” inicial tem uma interpretação causal e sempre que isso acontece deve escrever-se uma só palavra.
Apenas quando não existe outra interpretação senão “por que razão”, ou “por que motivo” (com ou sem a omissão das palavras razão e motivo) devemos separar o “por” e o “que”.

Repare-se nestes exemplos :

“Não vou ao comício porque não me apetece”. Neste caso, o porque é nitidamente uma conjunção causal e tem de ser escrito assim.

“Não vais ao comício por que motivo?” Neste caso, “motivo” é um substantivo e o “que” traduz “qual”. A pergunta refere-se ao motivo, a qual motivo.

“Não vou ao comício porque motivo uma grande agitação”. Aqui, “motivo” é uma forma do verbo motivar e o porque é uma conjunção causal. Logo escreve-se novamente tudo junto.

Mas ainda há mais : devemos escrever “Porque esperas?” ou “Por que esperas?”

Depende : se a pergunta equivale a “Esperas porquê?, isto é, “Não te vais embora porquê?” deve-se adoptar a primeira forma, com o porque unido. Se a pergunta equivale a “Estás à espera de quê?” (de que acontecimento?) então deve escrever-se separado.

Esta é a minha opinião, mas admito não estar totalmente correcto. É evidente que estas distinções são por vezes subtis e apenas um conhecimento mais profundo do português permite decidir como escrever correctamente.

Mas nisso tem toda a razão o António Viriato, quando lamenta, por outras palavras, a bandalheira que se instalou nas nossas escolas desde o 25 de Abril para cá. Por obra e graça, digo eu, de uma ideologia pseudo intelectual de esquerda que tomou conta da administração do ensino em Portugal.

Ainda que tenham passado pelo Ministério da Educação dirigentes de esquerda e de direita, o espírito dominante, o politicamente correcto, que nem os representantes da direita tiveram a coragem de recusar, é a malfadada pseudo intelectualidade de esquerda, do facilitismo, da “razão & coração”, do diálogo a propósito de tudo e de nada, da falta de uma autoridade bem definida nas escolas, onde se preconizam as absurdas e ridículas direcções colectivas, com professores, funcionários, pais e alunos, tudo à mistura, enfim, o descalabro a que conduzem estas patetices tão do gosto socialista.

Que vamos novamente apanhar em doses maciças !

Assinado : SOKAL

12 de fevereiro de 2005 às 10:07  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Amigos,

Sugiro que vejam o "post" do dia 24 Jan 05, em que (face a um outro exemplo ainda mais divertido!) o assunto está esclarecido - e isso não tem nada a ver com a minha opinião:

--

A) A resposta (pelo que percebi do que li no livro «Saber Escrever, Saber Falar») parece ser a seguinte:

Em frases como «POR QUE razão fizeste isso?» separa-se o POR do QUE, dado que o significado é «POR 'QUE-ou-QUAL' razão fizeste isso?».

No entanto, se a palavra «razão» (ou «motivo», ou outras semelhantes) não for explicitada, o correcto - vá lá perceber-se «por que razão»! - é: «PORQUE fizeste isso?».

(Claro que uma eventual resposta será sempre do tipo «PORQUE... me apeteceu!»).
***
Se não for assim, haja uma alma-caridosa que esclareça - pois reina GRANDE confusão acerca disso nos jornais que por aí lemos!
Curiosidade: no rodapé da capa do 2º livro refere-se o título do 1º, mas já corrigido.

-oOo-

B) 26 Jan 05: Esclarecimento obtido e enviado por Carlos Pinto Coelho:
«Eis o resultado da consulta que fiz aos linguistas do Acontece, Fernanda Cavacas e Aldónio Gomes:
Porque e por que/qual são elementos com valia diferente. O primeiro, advérbio interrogativo ou conjunção causal; os segundos, adjectivos interrogativos ou relativos regidos. O primeiro depende de um verbo expresso.
Porque interrogativo introduz livremente uma oração. Por que / qual interrogativo não introduz sozinho uma oração, mas só com apoio expresso de um substantivo.
Porque perguntas
Por que motivo perguntas
Porque causal introduz uma oração e é ligação directa com um verbo antecedente. Por que só indirectamente sugere a causa e tem ligação directa a um substantivo antecedente (causa, motivo, razão, etc.) - como oração relativa que é.
Pergunto porque quero.
Querer saber é a razão por que pergunto».
-oOo-

C)
Comentário de Edite Estrela (26 Jan 05):
Obrigada pela referência ao livro. Em ambas as publicações, devia ter sido empregado "porque", visto tratar-se de advérbio interrogativo. Só se emprega "por que" associado a um substantivo: por que razão/motivo/ideia/causa/coisa...

Abraço,
EE

12 de fevereiro de 2005 às 11:27  
Anonymous Anónimo said...

O comentário de Edite Estrela é bastante elucidativo. Diz ela : «Só se emprega "por que" associado a um substantivo : por que razão/motivo/ideia/causa/coisa...».

Na verdade, se perguntar «Por que razão fizeste isso?» a forma equivalente é «Fizeste isso por que razão?». A permanência do substantivo razão obriga a manter a separação do “por” e do “que” associado ao termo razão.

Mas se perguntar «Fizeste isso, porquê?» a forma equivalente é «Porque fizeste isso?». Embora se possa subentender uma “razão”, a ausência desse substantivo não justifica a separação do “por” e do “que”.

Isto vem reforçar a minha convicção : a explicação reside na possibilidade de se utilizar, ou não, um simples “porquê” numa frase equivalente. Se mantiver o substantivo (razão, motivo,etc) não posso utilizar o termo “porquê”. De facto, não posso dizer «a razão porquê você fez isso». Há quem diga e até se ouve nas telenovelas, mas não é português correcto ...

SOKAL

12 de fevereiro de 2005 às 14:03  

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