Continuem, que vão bem!
Recentemente, conheci uma arquitecta e um professor de Físico-Química que, por junto, ignoravam (sem o esconderem nem se envergonharem) coisas como a área do trapézio, do círculo e do triângulo; o perímetro da circunferência; a tabuada (especialmente dos 7, dos 8 e dos 9...); as provas-dos-9 (todas); as provas-reais (todas); as divisões; as raízes-quadradas... - e por aí fora, numa orgia de ignorância que, evidentemente, alastrava à Geografia, à História de Portugal, à Gramática, etc. etc.
Por isso, ao ouvir, hoje, uma senhora da FENPROF e um senhor de uma Associação de Pais a manifestarem-se contra os exames de Português e de Matemática no 9º ano, só pensei: «Pois...».
Aliás, já há dias, num concurso televisivo, uma senhora com formação (?) científica não sabia quantos graus tinha (e dizem que ainda tem) um ângulo recto - mesmo sendo-lhe dadas as hipóteses 0º, 90º e 180º. E também pensei: «Pois...»
Mas às vezes essas coisas até têm explicação.
Por exemplo:
Recentemente, o Professor Marcelo Rebelo de Sousa contava, escandalizado, que tinha conhecido um jovem que não sabia quanto era «metade de 8».
Mas não teve em conta que o rapaz, se calhar, estava apenas indeciso, pois, além do 4 (um resultado que qualquer aluno obtém facilmente recorrendo a uma máquina de calcular), existem outras duas respostas certas: a crer num outro desses professores de nova geração, o 8 dividido "ao alto" dá 3, e "atravessado" dá 0.
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CORRECÇÃO:
Menos de 12h depois do que acima se escreveu, lia-se no «DN»:
Os exames do 9.º ano podem acabar já em 2006. A realização das provas de Português e Matemática no actual ano lectivo não está em causa, mas o Ministério da Educação analisa também formas de minimizar o seu impacto, nomeadamente reduzindo o peso específico da nota - actualmente 25% - na classificação final dos estudantes, segundo apurou o DN.
Vamos, então, encetar o caminho de regresso à normalidade? Continuem, que vão bem...
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(Publicado no «Diário Digital» de 4 Abr 05 e no PÚBLICO de 6 Abr)
6 Comments:
O pesadelo da iliteracia vai ser cada vez mais difícil (ou mesmo impossível) de combater.
É que essa geração de analfabetos que as nossas escolas têm andado a criar já chegou à docência, pelo que, a partir daqui, a ignorância será "reprodutiva".
Pais, políticos, professores (e mesmo muitos alunos) bem podem limpar as mãos à parede.
Finalmente teremos alcançado a igualdade no saber, mesmo se nos tornamos todos ignorantes. Ao menos acabamos com a afronta das desigualdades. Como é que ainda há gente de Esquerda que justifica a balda actual do Ensino dito democrático, criativo e sem o estiga da repressão. Perante este descalabro, temos logo de reapreciar o Ensino do Salazar, que, não sendo bom, não ensinando tudo, escondendo bastante, ensinava muito mais do que o actual, pelo menos nos escalões do Primário e do Secundário. Quem poderá ainda contestá-lo ? Afirmar isto é ser Salazarista ? Metei as desinfectadas mãos nas vossas democráticas consciências, digníssimos cidadãos de Abril, revolucionários um dia, contemporaneamente moderados,à boa maneira de Willy Brandt e dizei-me se vos sentis confortados em vossos íntimos juízos ?
Corrijo estiga por estigma, para não desabonar o Ensino do António.
Como se há-de classificar um lapsus calami, quando produzido por uma tecla erradamente batucada ?
Este comentário foi removido por um gestor do blogue.
Caro professor, permita que o corrija, o 8 dividido ao alto dá
dois 3 (embora um fique invertido,pormenor de facil emenda) e atravessado
dois 0.
Convem ter algum rigor nos blogs, não vá passar pela cabeça de algum responsavel do M.Educação aroveitar os diversos conteúdos para a próxima reforma...
Obrigado pelo seu comentário!
Mas no texto diz-se que "8 dividido ao alto dá 3" (em vez de se dizer que "dá dois 3") pelo mesmo motivo que se diz que "10 a dividir por 2 dá 5" e não se diz que "dá dois cincos"...
Um abraço
do
CMR
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