21.7.05

(Imagem encontrada numa pesquisa em «aldrabões»)
SE um dos motivos para o cansaço de Campos e Cunha foi o que eu imagino, posso dizer que o compreendo muito bem , pois a mim já me sucedeu exactamente o mesmo - como talvez um dia aqui conte.

De qualquer forma, o que se passou com ele aconteceu também com outros governantes e com todos os deputados do PS que entraram de novo:

Trata-se de pessoas adultas, que tinham a sua vida familiar e profissional, e a quem, a certa altura, o partido convidou para funções políticas oferecendo-lhes, em troca (como em qualquer emprego normal), determinadas condições bem definidas: ordenado, horário, férias, reformas, regalias, etc.

Mas eis que, pouco depois de terem aceite o contrato proposto e entrado em funções, o "empresário" lhes diz que afinal são uns privilegiados, que estão a ganhar demais, que têm de cortar 2/3 das reformas ou dos ordenados (eles que escolham!), e mais isto e mais aquilo.

Pior: serão eles próprios a legislar sobre isso - perante o gáudio do "povão"!
Como exemplo de demagogia e falta de honestidade no relacionamento entre "patrão e empregado" (para já não dizer entre pessoas crescidas) era impossível encontrar melhor - embora, como atrás referi, me tenha sucedido exactamente o mesmo ao serviço de uma das maiores empresas portuguesas...

Se esse foi um dos motivos de irritação e de desgaste para Campos e Cunha, o homem tem TODO o meu apoio, como qualquer pessoa-de-bem que é vítima de um conto-do-vigário.
Mesmo que não tenha sido esse o motivo que o fez mandar bugiar o patrão, aqui fica uma palavra de apreço, pois deixa uma imagem de pessoa rigorosa, educada, esforçada e - quanto mais não seja, infelizmente, por contraste... - politicamente honesta:
Campos e Cunha (e isso já se sabia desde a rábula dos impostos) teria necessariamente de se dar mal com os que têm com a verdade uma relação pouco amistosa...

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Infelizmente, uma vez chegado ao poder, Sócrates mostrou à saciedade que a sua noção de "compromisso" é muito elástica, e se foi por isso Campos e Cunha o mandou à merd@, fez muitíssimo bem.

O facto de os outros terem engolido a pílula (estou a pensar em Mário Lino, p.ex) não abona nada em favor deles.
Em casos como estes, a frontalidade-obscena de Jardim justifica-se bem!

E.R.R.

21 de julho de 2005 às 10:05  
Anonymous Anónimo said...

Os porquês do ex ministro ter abandonado o cargo, não me parecem muito relevantes, as consequencias desse facto, o que vem para aí, isso é que me parece verdadeiramente preocupante. Também acho estranho que a notícia, tenha vindo assim de chofre, apanhando todos de surpresa. Normalmente nestas coisas há sempre algumas fugas de informação mas desta vez até parece que o lápis azul tem andado por aí a funcionar em pleno....

21 de julho de 2005 às 10:15  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Em política é mesmo assim.
Um ministro, quando bate-com-a-porta, alega sempre razões pessoais (familiares, de saúde, etc).

É raro que digam em público os motivos reais pois, mais cedo ou mais tarde, podem ter de regressar ao redil...
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Também eu, quando fui intrujado por uma grande empresa portuguesa (no episódio que refiro mas não explico em detalhe) tive o cuidado de não cortar todas as pontes.

E, no entanto, contrataram-me para um determinado trabalho, num determinado local (por sinal, no fim-do-mundo), por um determinado tempo e com determinadas condições de pagamento - tudo apoiado em documento escrito e assinado pela hierarquia.

Depois, uma vez começado o trabalho, recebi por fax outro documento escrito (com a mesma data, a mesma assinatura e até o mesmo nº de ordem) a alterar as condições de prazo e pagamento.
Para pior, evidentemente...

Permita-me que omita o nome da empresa, pois actualmente já é gerida por pessoas mais honestas do que as desse tempo.

21 de julho de 2005 às 10:27  
Anonymous Anónimo said...

Eu só pergunto é se a tal empresa lhe tivesse dito que, para o contratar naquelas condições, tinha de despedir mais de metade dos empregados e diminuir os salários aos outros em 10%, o Carlos tinha feito o contrato, mesmo que tivesse outro bom emprego. Com as regalias dos políticos, e não só, é isso que se passa: Redução dos salários (mais impostos) e "despedimentos" ou piores condições de trabalho (reformas mais tardias e menores, menos pagamento na doença, menos assistência médica...). É suposto que quem quer exercer actividade política tenha noção do que é o bem comum. Eu julgo que tenho e nunca quis ser político, apesar de ter tido várias oportunidades.
CC

21 de julho de 2005 às 11:17  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Por acaso, a diferença entre o contrato inicial e o final não foi o que me preocupou.

O que me irritou (e PROFUNDAMENTE)foi a chico-espertice, especialmente por vir de colegas de longa data.
Tanto mais que eu teria feito o trabalho até por menos dinheiro.

A partir desse dia, perdi completamente a confiança nessas pessoas, e a sua palavra, para mim, passou a valer ZERO (ou menos ainda...)
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Por curiosidade, a empresa começou, por essa altura, a ter fama, no mercado, de ser gerida por aldrabões - e isso teve, durante muito tempo, um custo elevado, até esses pândegos serem corridos (numa operação de higiene empresarial de saudar)

21 de julho de 2005 às 11:31  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Este assunto também foi levantado no forum do Expresso-online, onde (como não podia deixar de ser) há quem defenda a ideia que "Sócrates não sabia como estavam as coisas"

Bem, se uma pessoa como ele (chefe da Oposição, tendo no partido o Governador do Banco Portugal e mais umas dúzias de reputados economistas) "não sabia como estava o país"... o que é que se pode dizer?

A conclusão que daí se tiraria (se tal fosse verdade) também não seria muito lisonjeira...

21 de julho de 2005 às 12:39  
Anonymous Anónimo said...

Ora aí está meu caro, a conclusão NÃO É muito lisonjeira. Eu diria mesmo mais, a conclusão não poderia ser menos lisonjeira.

21 de julho de 2005 às 13:21  

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