20.7.05

ONTEM, na SIC-N, só vi o fim do frente-a-frente entre João Cravinho e Manuel Monteiro, na parte da conversa onde se abordou o TGV e a OTA, assunto em que João Cravinho estava à-vontade, enquanto o seu opositor se colocava na posição de palpiteiro («Não percebo nada disso mas acho que...»).

No entanto, num acesso de auto-confiança, Cravinho (depois de chamar super-ignorantes aos que se lhe opõem...) comentou, pretendendo fazer humor, que «os espanhóis devem ser tontos, pois vão fazer uns milhares de quilómetros de autoestradas e de TGV».

Só que, embora possa não perceber de transportes, Manuel Monteiro percebe um pouco de lógica, pelo que se limitou a responder:

- Exactamente. Os espanhóis vão tratar de fazer isso... AGORA.

Ou seja: DEPOIS de terem o problema das finanças públicas resolvidas e NÃO quando estavam atrapalhados (como nós agora).

Com alguma pena minha, João Cravinho não deu resposta satisfatória a esse argumento (e haveria alguma?)

25 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Este texto foi também afixado no Expresso-online, onde teve o seguinte comentário:
--

Não, não, desculpe lá, Manuel Monteiro - se quiser ser justo - não se manifestou em «palpiteiro-opinioso». O que ele disse é que não tinha conhecimentos técnicos que lhe permitissem avaliar aquele projecto, mas acrescentou de imediato que tal em nada invalidava que exprimisse uma opinião política. Ao que, de resto, Cravinho concordou.Já quanto a Cravinho ... pode porventura saber muito de OTA's e TGV's, mas sempre naquela base das SCUT's : Faz agora, paga depois ... do que há-de deduzir-se a «Tanga» em que nos atolamos...

Grão Vasco

20 de julho de 2005 às 17:42  
Anonymous Anónimo said...

Há uma resposta: investir para depois receber...é só uma ideia.
Não estou a dizer que os casos específicos sejam investimentos viáveis mas que é modernizar, investir no capital humano lá isso é. Ao adiarmos isso baseado no miserabilismo em que estamos, estamos apenas a perpetuar o miserabilismo.

21 de julho de 2005 às 00:45  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Claro que "quem sabe é que sabe", mas eu também sei que demoro mais tempo de Sintra a Lisboa (em hora de ponta na IC 19) do que muitas viagens até à Europa de avião.

Compreendo que se faça um novo aeroporto (na OTA ou noutro lado - isso é lá com os sábios), mas não que se acabe totalmente com a Portela.
Suspeito bem que esta segunda decisão (urbanizar aqueles terrenos) tem muito mais a ver com patos-bravos do que com o interesse nacional.

O bloqueamento da A1 (por duas vezes em dois dias, devido aos fogos (fora os outros dias...) dá-nos uma ideia do que vão ser os acessos à OTA. Pelo menos, faz-nos pensar.

Mas estou em crer que, se as decisões forem bem tomadas (sem cedência a pressões ilegítimas) e houver dinheiro, deve avançar-se com as obras de que o país precisa.

Quanto à criação de emprego, estamos conversados:
Serão essencialmente de Construção Civil, à conta de mais imigrantes (trabalhei em Alqueva, e os portugueses contavam-se pelos dedos!)

21 de julho de 2005 às 08:22  
Anonymous Anónimo said...

"Quanto à criação de emprego, estamos conversados:
Serão essencialmente de Construção Civil, à conta de mais imigrantes (trabalhei em Alqueva, e os portugueses contavam-se pelos dedos!)"

Não era nisso que eu estava a pensar...eu estava a pensar nos benefícos que os investimentos trazem e que não são contemplados em contas.
As vantagens que o TGV traria...a OTA já não tanto.
Além disso o Caro Medina esteve em Alqueva, ou seja a mão de obra mais cara era portuguesa (presumo que um engenheiro receba mais que um constructor civil)...portanto vamos lá ponderar isso melhor...
Agora o TGV não será tanto pela concepção da obra que vamos ganhar o que quer que seja, vai ser em termos estratégicos para o futuro.
Eu principalmente estou a pensar em intercâmbios de Universidades e relações empresariais...
Eu que sou de Aveiro reconheço que a UA é uma empresa monstro (no bom sentido) para a cidade, a dinamização que confere à cidade é inacreditável, um investimento passado e pesado está agora na fase do lucro...pois é...investir e depois recolher os benefícios...sendo claro que nem todos os investimentos são aceitáveis...mas tb não podem ser todos inaceitáveis.

21 de julho de 2005 às 09:33  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Pouca gente põe em causa o investimento em energias renováveis, em banda larga, em modernização dos serviços públicos, do ensino, etc.

De facto, só a OTA e o TGV é que têm sido olhados-de-esguelha, se calhar porque há muitas coisas ainda mal explicadas - e talvez tenha sido em parte por isso que Campos e Cunha bateu com a porta.

Esperemos para ver.

21 de julho de 2005 às 09:47  
Anonymous Anónimo said...

Eu penso que têm sido olhados de lado pelo montante que envolvem...
E porque, ao contrário dos outros, tem até sido sujeitos a uma maior discussão pública...

21 de julho de 2005 às 09:54  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Claro. E tem mesmo de ser assim, pois gastar largos milhões em estádios não é o mesmo que gastá-los em vias-de-comunicação ou em barragens (embora possam custar o mesmo, criar os mesmos postos-de-trabalho, etc).

21 de julho de 2005 às 10:10  
Anonymous Anónimo said...

Joao Dias nao se trata de adiar o miserabilismo, simplesmente nao podemos andar com a carroça á frente dos bois pelo menos nao numa altura destas, é estrategicamente incorrecto. em relaçao ao TGV nao falamos aqui de uma via de comunicaçao urgente de ser criada, é mais o simbolo da modernidade que propriamente a aplicaçao pratica em si. poderiamos perfeitamente esperar mais 8 anos, nao era estrategicamente incorrecto, Portugal nao perderia com isso. ganhariamos mais em investir na restruturaçao seria do alqueva, em energias renovaveis noemadamente a exploraçao ao maximo de parques eolicos e parques de energia solar, dar preferencia a consolidaçao das finanças publicas e da maquina estatal, criar condiçoes REAIS de investimento em portugal, (precisamos que nao nos façam rir com choques tecnologicos) e acima de tudo turismo porque RAIO nao ha mais turismo de qualidade em portugal? (e nao, nao é o TGV que trara mais turistas) e porque uma maquina estatal tao complexa? como podemos ter o mesmo numero de funcionarios publicos que espanha? é verdade falar é facil mas trabalhar da TRABALHO e ha reformas duras (mas cruciais) de serem feitas e poucos politicos com coragem, mas afinal a classe de politicos que temos é vergonhosa, todos os verdadeiros gestores em portugal estao no sector privado ou "imigrados". è doloroso pensar nisto mas também estamos limitados a criticas que nao sao ouvidas e a ouvir respostas vagas sobre os problemas do pais. (precisamos de Ministros serios, realmente trabalhadores, proactivos e concretistas.E com salarios serios, sejamos francos e deixemos os esquerdismos parvos um ministro tem de ter um salario que seja compativel com a realidade da economia e do sector privado o mesmo para um presidente, agora também tem de ter a qualidade ecfectiva para ocupar o lugar. e dar salarios "reais" a ministros nao é aumentar o despesismo do estado isso sao outros assuntos.)

21 de julho de 2005 às 12:35  
Anonymous Anónimo said...

e joao dias se esta a pensar em intercambios de universitarios e relaçoes empresariais a soluçao para ja passaria pela aceitaçao no aeroporto de lisboa e porto de companhias chamadas de "low fare" (como em qualquer cidade europeia) ou criar um terminal fora do aeroporto de Lisboa apenas para essas companhias. infelizmente isso nao interessa muito a ANA e a outras empresas. mesmo em faro aeroporto aonde voam muitas dessas companhias deveriam ver os voos aumentados em quantidade e durante todo o ano. garantolhe que nestas condiçoes veria as suas relaçoes interuniversitarias melhoradas. assim como ganharia o turismo de massas e quiça as relaçoes empresariais.

21 de julho de 2005 às 12:43  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Matateu,

Como se sabe (ou suspeita...), o facto de Campos e Cunha ser uma pessoa apreciadora da verdade foi a grande razão do problema.

Enquanto uns apregoavam o bacalhau-a-pataco, ele teve a ousadia de dizer o óbvio:
Que é preciso «estudar melhor alguns grandes investimentos». Só isso - mas foi o suficiente para se tramar.

Poderá argumentar-se que isso não era assunto para discutir em público.
Mas (e já aconteceu quando ele achou que os impostos iriam aumentar) ele preferiu falar directamente para o país quando viu que a mensagem da verdade não iria passar pelo filtro do "politicamente oportuno".

O país, muito possivelmente, deveria agradecer-lhe.

21 de julho de 2005 às 12:48  
Anonymous Anónimo said...

Caro Medina:
Eu acho que andam a por a carroça à frente dos bois...de facto podem ser incompatibilidades que tenham levado à demissão de Campos e Cunha, mas ele alegou problemas pessoais e ainda ninguém clarificou bem se de facto a saída dele se deve mesmo a problemas pessoais ou não. Por isso esses juízos embora hipoteticamente possíveis (tb parece que tenha sido isso) podem ser falsos...

21 de julho de 2005 às 21:07  
Anonymous Anónimo said...

Matateu:
Também concordo que a energia eólica e renováveis sejam prioridades. Mas em termos de energias renováveis tem de ser a população a dar o exemplo. Deu uma notícia ontem e era barato investir em paineis solares, as pessoas podiam andar mais a pé e de transportes públicos. Repare-se que a indepência que se está a tentar alcançar é energética, porque continuam a existir produtos e bens derivados do petróleo.
Se de facto a população civil criasse mecanismos de rotura, os lobbys das empresas petrolíferas ficavam enfraquecidos, inclusivamente evitavam-se algumas invasões.
A questão do TGV é uma questão que de facto cabe ao governo apostar, sempre que se investe em transportes públicos eu apoio, no sentido de incentivar as pessoas a habituarem-se a largar o carrinho e começarem a utilizar a sua consciência cívica, e não exigi-la somente dos políticos.

21 de julho de 2005 às 21:16  
Anonymous Anónimo said...

Em relação ao aeroporto ser mais favorável do que o TGV para as tais intercâmbios...discordo.
Vejamos as vantagens do TGV.
Menor condicionamento ao clima
Menos burocracia de bilheteira
Partidas e chegadas muito mais pontuais
Apresentar preços mais convidativos do que os das companhias aéreas (Caso contrário seria um suícidio)
Não há companhias de segunda e de primeira, existe o TGV que terá primeira classe e segunda, mas não existirá comboios assim assim, maus e bons.
Menor número de acidentes
Pessoas que tenham medo de voar podem não ter medo de andar de comboio
Estabilidade do TGV comparativamente a qualquer avião

21 de julho de 2005 às 21:25  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Caro João Dias,

Seja o que for que tenha acontecido, pode sempre dizer-se que são «razões pessoais».

Além disso, há uma espécie de "código" de boa-educação, em política, segundo o qual as pessoas que saem dos governos dizem sempre isso - salvo quando querem armar "chavascal", como fez o Henrique Chaves com o Santana Lopes.

Essa é a alegação-tipo que se dá em público.
Depois, em privado ou entre eles, lá dizem os motivos verdadeiros.

Mas, neste caso, a sequência dos acontecimentos (declarações de Sócrates, depois as dele e por fim as do Mário Lino - sucessivamente contraditorias) fala por si.

A seguir ao discurso do Mário Lino, ele pediu a demissão - logicamente.

21 de julho de 2005 às 21:25  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Matateu,

Tem TODA a razão em relação aos transportes públicos.
O pior é que não parece haver vontade política para a consequência lógica de desencorajar o individual:

O estacionamento selvagem é o que se sabe, os corredores BUS estão cheios de particulares, as autoridades não reprimem devidamente, as portagens não destinguem se os carro vêm cheios ou se trazem 1 só pessoa, etc.

Como é que se compreende que se vá mais depressa (e mais barato!) ao Porto de carro do que de comboio?

Claro que não devia ser assim.

21 de julho de 2005 às 21:34  
Anonymous Anónimo said...

Seja como for...é especulação..eu tb acho que essa seja a verdade...mas sou prudente a fazer juízos...

21 de julho de 2005 às 21:38  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Amigo João Dias,
Permite-me uma nota de humor?
Então imagine o filme seguinte:

1º-Há um gajo que dá uma martelada na cabeça de outro.

2º-Este, vendo que não pode retorquir, afasta-se, alegando «problemas pessoais» (dói-lhe a cabeça, o que é um problema MUITO pessoal)

3º-Um observador, que viu tudo o que se passou, conclui: «Seja como for...é especulação... eu tb acho que essa seja a verdade...mas sou prudente a fazer juízos...»

21 de julho de 2005 às 21:49  
Anonymous Anónimo said...

Escusa de me tratar por amigo para depois fazer um retrato estupidificante da minha pessoa...mas isso é consigo.
Eu sei de tudo o que se passou, mas imagine que de forma conveniente surge o inconveniente de C. Cunha ter um familiar doente, você continuava a defender a tese como facto consumado ou fazia com eu e virava 3º observador.

21 de julho de 2005 às 21:58  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Pronto, pronto!
Não se zangue por isso!

21 de julho de 2005 às 22:49  
Anonymous Anónimo said...

Nota-se aqui algum «excesso de falta» de senso de humor!

E.R.R.

22 de julho de 2005 às 08:05  
Anonymous Anónimo said...

"I get away with saying some pretty insulting things. People think I’m joking. I’m not. It’s just saying what I think. I don’t tell jokes. I tell the truth. And that’s sometimes a joke."

Groucho Marx

22 de julho de 2005 às 08:22  
Anonymous Anónimo said...

Vicente Jorge Silva, no «DN» de hoje:

«(...) O equívoco já vinha de trás, desde o momento em que Campos e Cunha, antes ainda da formação do actual Governo, se demarcou do compromisso eleitoral do PS em não aumentar impostos. A partir daí foi-se tornando cada vez mais visível a incomodidade do ministro com o calendário eleitoral e a lógica política dominante, manifestamente contrária às suas convicções. Para um naif político como Campos e Cunha, não há momentos mais ou menos oportunos para dizer a verdade. Sócrates devia ter percebido isso quando o escolheu para ministro das Finanças. É que a política continua a ser, infelizmente, a arte suprema da dissimulação (...)».

http://dn.sapo.pt/2005/07/22/opiniao/sintese.html

--
Concordo plenamente:
O homem "cansou-se" de aturar aldrabões, e o "cansaço é um problema 100% pessoal".

22 de julho de 2005 às 09:33  
Anonymous Anónimo said...

Joao Dias,
Em relaçao ao caso dos paineis solares é bem verdade isso que referio, vejamos, um investimento num painel solar suficiente para "alimentar" uma casa com 4 pessoas custara aproximadamente 2.500€ o estado atravez dos fornecedores destes serviços poem a disposiçao creditos especiais em que a pessoa pagara mensalidades equivalentes a media do consumo energetico mensal do ultimo ano ate atingir o valor do painel. ora é evidente que isto é um excelente investimento. julgo que ha aqui uma falta de divulgaçao (quiça por interesse de muitos ou por falta de força de alguns) e também que ouve uma certa tendencia para paineis solares em meados dos anos 80 que nao correu muito bem devido á nao tao boa qualidade dos paineis. hoje em dia um painel solar moderno tem caracteristicas tecnicas impressioanantes e nao da problemas inclusive a nivel de estetica compreendem soluçoes agradaveis (formato "telha", menores dimensoes e acumuladores "escondidos") fugindo ao tradicional monstro preto com um acumulador branco em cima.
Posto isto também nao percebo porque nao ha mais paineis solares e porque nao serem em obrigatorios em obra nova como sao na alemanha ou no japao. falta de força de inercia? o tempo passa a vida vai continuando e o numero de paineis solares domesticos nao aumenta. sera que com maior divulgaçao aumentariam ?


http://www.ceeeta.pt/downloads/pdf/Solar.pdf
http://www.spheralsolar.com/
http://www.solarelectricpower.org/
www.troquedeenergia.com/

22 de julho de 2005 às 10:37  
Anonymous Anónimo said...

esquecime de assinar. boa pesquisa no mundo do painel solar.

22 de julho de 2005 às 10:38  
Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Matateu,

Aqui vão mais umas "achegas":

A energia solar é usada, em geral em 2 funções: aquecimento e geração de energia eléctrica.

Enquanto o calor-em-bruto pode ser facilmente armazenado (sob a forma de água quente, p.ex), é muito mais caro fazê-lo com a energia eléctrica - neste caso, tem de carregar baterias, o que exige depois "onduladores" para obter os habituais 220 V c.a.
Claro que se pode equipar a casa com electrodomésticos de 12 ou 24 Vc.c. mas não é fácil.

O preço do conjunto (colector/baterias/ondulado/ também não tem sido competitivo em termos de «€ por kW instalado».

Mas acredito que a evolução (em baixa) dos preços desses equipamentos (e a subida dos da energia) podem levar a uma melhoria da situação.

Esperemos que sim.

O problema é, simultaneamente, político e económico.

22 de julho de 2005 às 10:55  

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