21.10.05

Os três príncipes

A ACTUAL corrida à Presidência da República faz-me lembrar um velho conto indiano que em tempos li.

À parte um ou outro pormenor em que a memória me possa atraiçoar, a história era assim:


Em tempos que já lá vão, num pequeno reino perdido no interior da Ásia, havia três principes gémeos, um dos quais deveria ascender ao trono quando o pai morresse.
Não podendo reinar os três, era preciso saber o mais cedo possível qual deles poderia vir a ser o melhor rei, pois havia um longo caminho de preparação que era necessário percorrer.

Assim, quando chegaram à idade em que já sabiam manejar armas, caçar e andar a cavalo, o rei mandou que fossem sujeitos a um conjunto de provas de inteligência, perícia e coragem - e, evidentemente, aquele que obtivesse melhores resultados ficaria sendo o primeiro na linha da real sucessão.


Começaram então com uma prova de tiro com arco, e tiraram à sorte a ordem pela qual haviam de lançar as setas.

Ora aconteceu que o primeiro viu a sua flecha desviar-se devido ao forte vento que se fazia sentir; e o mesmo aconteceu ao segundo. O último, perspicaz, teve em conta o que sucedera aos irmãos e, quando desferiu o seu tiro, acertou em cheio no alvo.

E isso voltou a acontecer em todas as provas que - para bem da história e proveito dos leitores... - nunca eram simultâneas:


O terceiro príncipe, sempre atento ao que faziam os outros antes dele, conseguiu, sem grandes dificuldades, ser o melhor em todas as provas.

A moral da história - «os últimos são os primeiros» -, parece ser uma conclusão para a qual não é necessário ler velhos contos orientais.


Ou será?!

É que, goste-se ou não do facto, é exactamente isso o que está a fazer Cavaco Silva, por contraste com os erros-de-palmatória que os seus concorrentes parecem fazer questão de lhe oferecer de bandeja!

Estes últimos, como é de norma em casos semelhantes, são absolutamente incapazes de «se verem de fora», e insistirão até ao último minuto nos mesmos erros, frases e atitudes.

Depois, na noite das eleições e nos tempos seguintes, lá os ouviremos a deitar as culpas para as empresas de sondagens ou para a Comunicação Social - mas nunca para si próprios nem para os que os rodeiam...

4 Comments:

Blogger Carlos Medina Ribeiro said...

Foi penoso ouvir, uma hora depois do discurso de Cavaco, o palavreado tumultuoso de Helena Roseta, armada em metralhadora-falante.

A meu ver, como seu ar auto-convencido e sempre irritada, esta ex-PSD está a prestar um péssimo serviço (como porta-voz, pelo menos) a Manuel Alegre.

21 de outubro de 2005 às 12:02  
Blogger Cesar Valentim said...

Cavaco ganhou imenso com o silêncio e acabou por ganhar "tempo de antena" com a posição das restantes forças políticas. À sua esquerda, reconhecendo que apresentavam candidatura "contra" Cavaco (que nem era candidato), à direita com a posição dos que estão a contestar a Direcção partidária.

21 de outubro de 2005 às 14:41  
Anonymous Anónimo said...

Por vezes, não dar cavaco antes de tempo é uma boa estratégia.
Encavacado

22 de outubro de 2005 às 02:11  
Blogger Unknown said...

thanks for the info
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